O acaso é algo extraordinário. Exemplo: Pelé poderia ter jogado e se projetado mundialmente em um dos grandes clubes de São Paulo. Todavia, sua projeção se deu por obra do acaso. Foi no Santos, em uma época em que o futebol santista era marcado não pela rivalidade, mas pelo prestígio e poder das colônias portuguesa e santista, patrocinadoras da Portuguesa e do Jabaquara. O Santos era time de vila, a Belmiro. Um clube que conquistou o mundo, não só com Pelé, ainda que fosse gênio, mas com Pépe, Mengalvio e Coutinho, entre outros craques. O acaso os reuniu.
Esse pensamento sobre o acaso, o autor desta reportagem ouviu em conversa pessoal com o jornalista e advogado Joseval Peixoto, homem de notável inteligência, inclusive admirado e prestigiado por Silvio Santos, o maior comunicador do Brasil em todos os tempos. Tanto é que no episódio do sequestro que vitimou o dono do SBT e sua filha, somente Joseval Peixoto o entrevistou. Não foi o jornalista quem ligou para o empresário e apresentador. Foi ele quem ligou para o jornalista e na naquele dia os principais veículos de mídia eletrônica do Brasil reproduziram a conversa entre os dois.
O nascimento desse brilhante homem das causas jurídicas, do rádio e da televisão por acaso foi no Rio de Janeiro, em 26 de setembro de 1938. Recebeu o nome de Joseval Peixoto Guimarães. Seus pais Josefina e Valter, daí o Joseval, foram para lá cuidar de negócios da família, frustrados pela guerra. Iriam exportar madeira para Portugal, pois seu avô Francisco Isidoro possuía três grandes serrarias em Rancharia, cidade da qual foi um dos fundadores. Então, praticamente a estada na então capital do Brasil foi para o nascimento do mais famoso neto de Chico Isidoro.
A formação humanitária de Joseval Peixoto surgiu pelo acaso de ter sido enviado a Paraguaçu Paulista para estudar em regime de internato no colégio mantido pelo Instituto Gamonn, da Igreja Presbiteriana, onde teve o privilégio de ser aluno do educador Célio Rodrigues de Siqueira. Nasceu aí uma relação tão impactante que, num encontro promovido entre os dois pelo jornal O Imparcial, o ex-aluno, ao abraçar seu eterno professor, parecia ter voltado no tempo e ter sido novamente o aluno reverenciando o mestre. Também foi em Paraguaçu que começou a fazer locução.
Aos 15 anos de idade, no serviço de alto falante impostava a voz para dizer que Adão não se vestia, porque Durval não existia. Daí, completava: Alfaitaria Durval, Avenida Paraguaçu. 121, telefone 215. Joseval Peixoto conseguiu essa ocupação junto ao seu primo Moacir Alves. Ao concluir o ginasial foi passar uns dias na casa de seus avós em Paranavaí (PR) e lá ficou o final de 1955 e começo de 1956 trabalhando na Rádio Paranavaí, a ZYS-39. Daí mudou-se para Presidente Prudente, para estudar no IE (Instituto de Educação) Fernando Costa.
Conseguiu emprego na Rádio Caiuás, também conhecida como ZYR-84, atual Rádio Prudente. Trabalhou no setor esportivo, com Flávio Araújo; no radioteatro com Geraldo Soller; e interpretou as crônicas de Rubens Shirassu. Conviveu com Nilton Mescoloti, Jurandir Gomes, Tadashi Kuriki, José de Alencar, José Italino, Brendrah Júnior, Silvio Roncador, Valdomiro Bavaresco, Carlos Alberto de Arruda Campos, Antonio Macca e Adelmo Vanalli, dentre outros. Aos 17 anos tornou-se narrador esportivo e viveu os bons tempos de Prudentina e do Corintinha.
DE PRUDENTE
PARA SÃO PAULO
Teve sua carreira forjada em Prudente e foi a São Paulo por três motivos: o namoro com Etelvina Scalon que havia ido antes, para fazer o ensino superior e em busca de trabalho. Casou-se no começo de 1963. Tiveram três filhos: Ana Maria, Cláudia Cristina e Carlos Eduardo. Trabalhou inicialmente na Rádio Banderiantes, passou por algumas outras, mas juntou seu nome à marca Joven Pan por mais de 50 anos, a maior parte como âncora do Jornal da Manhã. Trabalhou em televisão, inclusive como um dos apresentadores do SBT Brasil, contratado por Silvio Santos. Formou-se em Direito na Faculdade do Largo de São Francisco.
Mantém relações com Prudente, inclusive na condição de Cidadão Prudentino. O título de cidadania foi concedido pelo então vereador e hoje deputado estadual Ed Thomas. O Imparcial sempre foi a sua casa, com os amigos Adelmo Vanalli, Mário Peretti e Deodato da Silva, dos quais recebeu o Troféu Heitor Graça. É detentor do Oscar do rádio, o Troféu Roquette-Pinto, quatro vezes seguida: de 1968 a 1971. Também detém o Troféu Imprensa, o Oscar da TV Brasileira. Joseval Peixoto se fez referência em transmissão de desfiles de escolas de samba, por estudar cada enredo.
Em suas transmissões internacionais, no tricampeonato brasileiro na Copa do Mundo do México em 1970, Joseval Peixoto narrou 3 gols dos 4 a 1 do Brasil diante da Itália. Também é dele o grito tricampeão mundial que fez eco no Brasil pelas rádios Bandeirantes, Gazeta e Panamericana. Por uma questão técnica, as emissoras não conseguiram suas transmissões individuais. Então, se juntaram. Houve sorteio para a sequência da narração de 30 minutos cada: Fiori Giglioti, Pedro Luiz e Joseval Peixoto, que pegou o jogo com o placar de 1 a 1. A narração da conquista definitiva da Taça Jules Rimet, por acaso, está registrada em sua voz. Pelos acasos ou não, Joseval Peixoto é um doutor por honra da causa da produção jornalística de qualidade.
Fotos: Arquivo pessoal
Em 1970, já reconhecido e premiado narrador esportivo em São Paulo
Professor Célio Siqueira e Joseval Peixoto, em evento de O Imparcial
Na Joven Pan foram 52 anos de bons serviços prestados por Joseval Peixoto
Apresentador do SBT Brasil, o principal noticioso dessa rede de televisão
Silvio Santos e Joseval Peixoto: mútua admiração profissional e pessoal