Juca Chaves

Sandro Villar

O Espadachim, um cronista a favor da lua e contra os lunáticos

CRÔNICA - Sandro Villar

Data 28/03/2023
Horário 05:30

Filho de um judeu austríaco, que construiu a primeira fábrica de plásticos no Brasil, Juca Chaves nasceu no Rio de Janeiro. Morou em São Paulo e, como muitos brasileiros, se encantou pela Bahia e para lá se mandou de mala e cuia. O apelido Menestrel Maldito foi dado pelo poeta Vinícius de Moraes.
E perdemos o humor do Juca, Jurandyr no RG e em outros documentos. Morreu sexta-feira em um hospital de Salvador. Foi cremado. Tinha 84 anos. Além de humorista, aliás, baita humorista, Juca Chaves também era cantor, compositor e músico.
Crítico feroz da Ditadura Militar, Juca era monitorado. A censura ficava na cola dele. Algumas de suas canções merecem destaque e, assim de supetão, lembro-me de "A Cúmplice", uma valsinha bonita em que ele exalta a figura da mulher perfeita. Também é bela a canção "Por Quem Sonha Ana Maria?".
E o que dizer de "Presidente Bossa Nova?" Sátira ao então presidente Juscelino Kubitschek. Juca fala até das "aulinhas de violão" que JK tomava "com Dillermando". O Dilermando em questão era o grande violonista Dilermando Reis, aquele do "Abismo de Rosas" e "Marcha dos Marinheiros", duas belas canções (ao que parece não colocaram letra). 
Quando o Brasil comprou um porta-aviões da Inglaterra, Juca não perdoou. Ele compôs "Brasil Já Vai à Guerra". Acho que foi o primeiro "naufrágio" do porta-aviões São Paulo, afundado recentemente pela Marinha. 
"Brasil já vai à guerra, comprou porta-aviões, deu vivas pra Inglaterra, mas que ladrões", diz um trecho da letra em que Juca contesta o alto valor pago pelo navio, qualquer coisa em torno de 82 bilhões de cruzeiros, a moeda da época. Na avaliação do humorista, que tachou o navio de "quinquilharia sem serventia", essa grana toda daria para matar a fome de muita gente.
Ele deu uma entrevista antológica ao Pasquim. Afiado, não livrou a cara de ninguém. Um dos momentos hilários é quando ele fala de Adolpho Bloch, então dono da revista Manchete e da TV Manchete. "Adolfo Bloch é antissemita", disse. Não deixa de ser divertido porque é um judeu chamando outro judeu de antissemita. Dizem que Adolpho ficou Putin da Vida.
Juca Chaves apareceu em filmes, entre eles "Marido de Mulher Boa", com Zé Trindade, outro grande comediante completamente esquecido. Nas apresentações no teatro, ele ficava muito à vontade. Fazia os shows descalço e, entre uma música e uma piada, interagia com a plateia.
Foi num show que um sujeito perguntou pra ele: "Juca, quantas mulheres você já teve?". Sarcástico, ele deu uma de sonso e emendou: "Carros? Carros eu tive 37. Agora, mulheres eu não sei. Eu nunca contei". Sem Juca Chaves o Brasil ficou mais triste e o céu mais alegre. 

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