Modos de fazer a comida

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 13/02/2022
Horário 04:30

Eu sempre achei que minhas habilidades culinárias foram desenvolvidas durante os almoços de domingo na casa do meu pai. De fato, com ele aprendi muitos pratos típicos nordestinos, principalmente a base de carne de sol e farinhados. Mas eu cometi uma grande injustiça com a minha mãe e seus truques da cozinha prática do dia a dia. Sem muito alarde (e bagunça na cozinha), lá estava a minha mãe na cozinha. Uma imagem marcante de minhas lembranças mais antigas. 
Cresci saboreando um quibebe de carne com mandioca que a maioria das pessoas chama de vaca atolada. Que delícia!  Aparentemente simples, pratos como estes não se tratam de assunto trivial e nem mesmo estão registrados nos livros. Se aprende fazendo junto e lembrando histórias dos caminhos lá das gerais. E o grande segredo aqui é o ponto de cozimento dos ingredientes: a mandioca (macaxeira ou aipim) sem desmanchar completamente, a carne quase com as fibras esfaceladas, e aquele caldinho num misto de creme suave e caldo caseiro.  
Talvez seja difícil imaginar o que estou dizendo até mesmo porque são muitas as variantes deste prato típico brasileiro. Há quem prefira a abóbora no lugar da mandioca. Noutras tradições o caldo se transforma em um creme. Vai pimenta? Biquinho ou dedo-de-moça? E a polêmica do cheiro verde ou coentro?
Do quibebe de carne com mandioca passo a me lembrar de um prato muito mais antigo na família: o famoso doce de pão da Vovó Filhinha. Aparentemente muito simples - pedaços de pão amanhecido cozidos ao leite até o ponto de pudim, esta é mais uma receita que se perdeu no tempo. Meu Deus… ainda será preciso inventar a melhor forma de escrever sobre esse modo materno de confeccionar os alimentos. Não é por outra razão que as memórias da cozinha materna acabam se transformando em livros. Uma obra bem divertida é a “Professoras na cozinha”, já na sua nona edição. Segundo as próprias autoras, a filósofa Marilena Chaui e sua filha, não se trata de um livro de professoras da cozinha, mas de mulheres com pouco tempo disponível em casa e dispostas a trocar experiências práticas para facilitar o cotidiano. Eu recomendo a leitura. E agora nós temos “Receitas de Zilah (e umas histórias sobre elas)”, obra que reúne 211 receitas e 18 crônicas que comentam diferentes aspectos desses pratos. É uma leitura muito divertida porque nos convida a saborear o prazer das refeições comuns a partir dos  diferentes olhares de suas filhas e sobrinhas. 
Oi, mami…li outro dia que os cremes de mandioca são ótimos para esses tempos de pandemia!
 

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