Nas nuvens

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 13/07/2025
Horário 05:00

Quem nunca ficou fascinado com as nuvens que se formam no firmamento bem acima de nossas cabeças? Dizem que algumas delas são compostas principalmente por cristais de gelo formados a mais de 6 mil metros de altitude, como se fossem fios delicados, brancos e sedosos. Existem aquelas nuvens que parecem pequenos flocos ou grãos brancos, como escamas de peixe. Mas tem também algumas com camadas espessas e escuras, prenúncio de chuvas constantes e duradouras. Pior então são aquelas imensas, com formato de bigorna ou cogumelo no topo, associadas à chuvas muito fortes, raios, trovões, granizo. 
Tamanha diversidade provoca a imaginação das crianças, não é mesmo? São elas que saem por aí, identificando fios de cabelo ou rabos de cavalo entre as nuvens. Ou os pequenos pãezinhos, travesseiros fofos ou cortinas transparentes cobrindo o céu. Tem também os fios de seda no azul, escamas flutuantes no mar do céu, castelos de algodão...
Os poetas gregos, como Píndaro, diziam que as nuvens eram os pastos do céu, onde corriam os cavalos de Helios (o Sol). Quando o céu ficava escuro, era como se os cavalos tivessem galopado por entre as nuvens, fazendo sombra. Néfele era a ninfa-nuvem. Ela foi criada por Zeus como uma cópia de sua esposa Hera para enganar o rei Ixión, que tentava seduzir a deusa. Ixíon se deitou com Néfele pensando que era Hera – como castigo, foi preso em uma roda de fogo girando eternamente no Tártaro! 
Para os mais céticos, não é nada disso. A nuvem não passa de gotas diminutas de água em suspensão no ar, e que dá origem às chuvas. Ela pode ser descrita, utilizando-se pulsos de laser ou fotodetectores. 
Outro dia, vi nuvens altas como fantasmas dançando entre janelas espelhadas. Cirros, diz a Ciência. Mas pareciam mais avisos. O vento soprava frio lá do sul. Não era só ventania – era um jeito estranho do ar soprar em nossos ouvidos notícias ruins. O céu anda confuso. E a gente também. Chove onde não chovia. Queima onde era verde.  Hoje olho o céu e não sei mais se vai fazer calor, se vai chover. E a gente, que sempre achou que o céu era só cenário, ficamos boquiabertos diante daquela gigantesca nuvem preta de poeira que se alastrou por centenas de quilômetros, como se fosse um dragão impulsionado por solo seco e ventos fortes, e que causou sensação de tempestade, mesmo sem chuva imediata. 
Talvez as nuvens estejam descobrindo que elas também são personagens, que podem sentir e se manifestar com delicadeza ou tragédia. A nuvem é o céu que chora devagar. É melancolia que se derrama em silêncio, mesmo que se agita como quem perdeu o compasso da música do mundo. 
 

Publicidade

Veja também