Neste sábado, às 16h, o projeto Múltiplos Sons recebe no Sesc Thermas de Presidente Prudente um encontro raro entre passado, presente e futuro da música afro-atlântica: Udi Fagundes, artista brasileiro de alcance nacional e internacional, desembarca na cidade com o espetáculo “Samba de Cabo Verde”, um rito musical que homenageia os 50 anos da independência de Cabo Verde e revisita, com alma brasileira, o cancioneiro imortal de Cesária Évora e de toda a diáspora cabo-verdiana.
O show, concebido como uma grande pergunta poética — “como soaria um samba com alma cabo-verdiana?” — nasce da pesquisa profunda que Udi iniciou em Cabo Verde, numa imersão que atravessou morna, coladeira, batuques, história e afeto. O resultado é uma fusão sonora sofisticada e emocional, onde morna encontra samba, coladeira encontra samba-rock, e a música de raiz africana reencontra sua própria árvore genealógica.
Nascido em Porto Alegre (RS) e hoje figura consolidada da cena musical brasileira, Udi Fagundes vem construindo, há mais de duas décadas, uma obra marcada pelo trânsito entre culturas, pela pesquisa social e pelo diálogo entre Brasil, África e Atlânticos múltiplos.
Sua discografia, que inclui trabalhos como Cabeça de GPS, colaborações com Gabriel O Pensador, singles recentes como “Petit Pays” e “Reels de Samba”, além de turnês por América do Sul, Europa, África e Oceania, consolida esse percurso plural.
“Sua música nasce do entendimento profundo de que cada canto da terra guarda um pedaço da África”, como o próprio artista já afirmou. Essa visão transborda no palco — e em Presidente Prudente será amplificada por uma formação que resgata irmandades antigas.
O espetáculo traz à cidade a celebração da amizade e da colaboração artística entre Udi e o músico Mateuzinho Umbigae, um dos nomes potentes do samba-rock contemporâneo. Guitarrista, violonista, produtor e pesquisador rítmico, Mateuzinho não apenas acompanha Udi — ele o provoca, o tensiona e o expande.
Mais do que um músico acompanhando Udi, Mateuzinho Umbigae traz originalidade à sonoridade desse encontro. Filho da nova geração do samba-rock e pesquisador incansável das rítmicas afro-brasileiras, Mateuzinho desenvolveu uma linguagem própria em que a guitarra conversa como se fossem uma voz da mesma ancestralidade sempre com ousadia, inventividade e precisão. Seu trabalho com a banda, construída com amigos de longa data, reforça esse espírito coletivo: arranjos pensados a muitas mãos, conversas que se transformam em levadas, lembranças que viram grooves, e uma compreensão profunda de que música se faz junto.
A banda que chega ao Sesc Thermas é formada por:
• Udi Fagundes – voz e violão
• Mateuzinho Umbigae – guitarra
• Zé Junqueira – bateria
• Thiago Lima – percussão
• Jack – trompete e trombone
• Bruno Alfarovo – contrabaixo
• Lucas – teclados e sax
É um time que faz jus ao conceito do projeto: música como encruzilhada, como travessia, como ponto de encontro entre mundos distantes por mar e próximos por ritmo.
O repertório apresentado, construído em torno de clássicos cabo-verdianos e releituras de artistas contemporâneos, promete levar o público por um percurso emocional que vai da saudade à celebração:
Cesária Évora comparece com força em músicas como “Nho Antone Escaderode”, “Petit Pays”, “Mar Azul”, “Carnaval de São Vicente”, “Morabeza”, “Sodade” e “Miss Perfumado”.
Cada arranjo carrega novas cores: samba-funk, samba-canção, pandeiro, clarinete, teclado jazzístico, sopros em naipe, levadas de carnaval, samba de roda, dub de guitarra.
Há também as releituras de Mayra Andrade (Juana e Tunuca) e de Lura (Na Rì Na), além das faixas de pesquisa e composição próprias, que completam a travessia atlântica do show.
O espetáculo ganha brilho adicional por acontecer em Presidente Prudente, cidade que vem afirmando seu lugar no mapa cultural do país — e que, no projeto Múltiplos Sons, se torna ponte entre grandes artistas da cena nacional e pública local.
Para além da potência de Udi, há uma beleza política e poética no encontro com músicos da região, participando de uma formação profissional, potente e internacionalmente dialogada. O palco se torna metáfora viva do que o interior pode ser quando se reconhece como parte do centro, e não como margem.
Em Prudente, Udi não chega como “estrela distante” — chega como parceiro, como alguém que troca, aprende, entrega e se deixa atravessar. Chega como quem sabe que cultura se fortalece quando caminhamos lado a lado, com respeito e igualdade.
O público pode esperar um show:
• caloroso, com arranjos repletos de percussão, sopros e camadas rítmicas;
• emocionante, pela presença constante da morna e da Cesária Évora;
• dançante, com samba-rock, samba de roda e levadas afro-brasileiras;
• histórico, por celebrar meio século da independência de Cabo Verde;
• profundo, pelo teor de pesquisa, afeto e ancestralidade que atravessa o projeto;
• e surpreendente, pela maneira como a música brasileira se revela grande quando abraça suas Áfricas.
No fim das contas, este show é mais que espetáculo: é reza, viagem, retorno, saudação. É encontro de continentes, encontro de amigos, encontro de histórias. E, sobretudo, encontro com o público.
Gasalucinação

Mais do que um músico acompanhando Udi, Mateuzinho Umbigae traz originalidade à sonoridade desse encontro