Nossa vida é uma coleção de “ontens”

Roberto Mancuzo

COLUNA - Roberto Mancuzo

Data 15/11/2022
Horário 05:10

Tem gente que coleciona carrinhos de brinquedo, outros discos de vinil, tem a galera das figurinhas da Copa agora. Mas tem algo que todos nós colecionamos, querendo ou não: os “ontens”.

Escrevo esta crônica de dentro de um acampamento católico. Como estou trabalhando na equipe de mídia, consegui um tempo para honrar este compromisso semanal com o jornal.

E óbvio que todo este clima de paz e oração me inspirou a escrever e especialmente a falar sobre a brevidade da vida. Tenho um certo receio de pensar este tema, na verdade, porque a gente às vezes fica falando “Olha, o fulano morre... Tão novo” ou “Nossa, nunca imaginei que ela fosse tão cedo...” E a gente esquece que nossa vez também pode chegar tão rápido quanto se pisca o olho. Socorro...

Mas é aí, justamente, que podemos lançar uma boa reflexão: se a nossa única certeza é a morte, o que estamos fazendo para honrar cada segundo por aqui?”. É claro que é pergunta velha, mas as respostas ou os insights sempre são novos.

Um deles, por exemplo, dá título à crônica. Eu comprei uma camiseta com a frase “O ontem já passou. O amanhã ainda não chegou!”, em uma mensagem clara de que devemos realmente cultivar o “hoje” em toda sua extensão, suas delícias e suas dores. Concordo sim, e penso mais ainda que pessoas são muito infelizes porque vivem ou buscando uma felicidade que ainda vai chegar (ou não!) ou remoendo momentos bons, mas que já se foram e ficou apenas uma vaga lembrança.

Mas olhar nosso passado não precisa ser uma experiência ruim ou algo que deva deixar de ser feito. Afinal, a nossa vida é uma coleção de “ontens”.

O “ontem” tem muito poder sobre como estaremos hoje e sobre o que faremos lá na frente. É pelo conjunto de experiências, nas mais diversas áreas, que nos programamos ou pelo menos tentamos agir dentro de uma zona de segurança. Traumas ou momentos felizes nos influenciam em tudo.

A nossa “coleção de ontens”, portanto, é muito vasta e tem mais poder do que podemos supor. Dizer que o ontem já passou não significa esquecê-lo e sim que precisamos guardá-lo.

Como está a sua coleção? Os “ontens” de sua vida são muito mais sofridos ou alegres? Você costuma deixá-los à mostra, para todos verem ou o negócio é escondê-los bem?

Seja como for, bons ou ruins, são eles que te ajudam a viver o presente de forma mais lúcida e coerente e ainda assim olhar para o futuro de maneira mais planejada.

Cuide de sua coleção de “ontens”. E se depois de eu tê-los provocado, a sensação é de que sua coleção tá bem ruinzinha, nada mais oportuno do que renovar tudo. Afinal, o dia de hoje, já já estará em sua estante de “ontens”. E você fez o quê?

 

Roberto Mancuzo é jornalista, escritor e cronista, autor dos livros "Cinco Pedras de Davi" (ed. Ave Maria) e Deus não Evita, Ele muda o Final (ed. Canção Nova).

Especialista e consultor em Comunicação Empresarial e professor dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Escola de Comunicação e Estratégicas Digitais, da Universidade do Oeste Paulista. Doutor em Geografia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Mestre em Comunicação pela Universidade Estadual de Londrina (UEL).

 

 

Publicidade

Veja também