O abismo da idolatria e a crise da política cultural em Prudente

OPINIÃO - Helber Henrique Guedes

Data 20/09/2025
Horário 05:00

A cultura, quando tratada como instrumento de poder e não como direito coletivo, se torna vítima de um processo perigoso: o da idolatria política. Essa prática, que coloca líderes, grupos e interesses pessoais acima das instituições, corrói a democracia silenciosamente e abre caminho para diferentes formas de violência — simbólica, institucional e cultural.
Infelizmente, esse tem sido o cenário vivido em Presidente Prudente. A política cultural da cidade, que deveria ser construída de forma plural e transparente, vem sendo capturada por um aparelhamento que une Executivo, Legislativo, Secretaria de Cultura e setores da sociedade civil em torno de interesses particulares.
O caso do Comuc (Conselho Municipal de Cultura) é emblemático. Declarado irregular pelo Ministério Público devido à sua composição ilegal, esse espaço deveria passar por uma reestruturação ampla, com novo regimento e participação efetiva da sociedade civil. Mas o que se viu foi justamente o contrário: reuniões convocadas por um conselho já invalidado, deliberações sobre o uso do Fundo Municipal de Cultura sem consulta democrática e tentativas de legitimar decisões centralizadas que não representam a classe artística.
Esse é o retrato de uma ideologia política que não dialoga com a diversidade e com a crítica, mas que busca concentrar decisões em poucos atores. Quando a política cultural se converte nesse jogo, o espaço da cultura perde sua essência: ser um território de pluralidade, diversidade e construção democrática.
A verdadeira democracia cultural não pode existir onde há idolatria de líderes ou aparelhamento institucional. Ela só se sustenta quando há participação social, alternância de vozes e respeito às regras legais. A ausência disso nos empurra cada vez mais para o abismo, um abismo onde a cultura se torna moeda de troca, espetáculo vazio e instrumento de legitimação política.
Se queremos evitar essa queda, é urgente retomar a noção de que a cultura pertence ao povo, não a projetos pessoais ou interesses de gabinete. Defender a cultura é garantir instituições legítimas, fundos transparentes e conselhos democráticos. Só assim teremos uma cidade capaz de construir políticas culturais que sirvam a todos, e não apenas a alguns.
Mesmo de longe, sigo acompanhando e denunciando o que se passa em nossa cidade. E deixo um apelo direto: não há mais tempo a perder — eleições democráticas e transparentes para o Conselho Municipal de Cultura já.
 

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