A cada novo caso de estupro noticiado, a sociedade brasileira revisita uma ferida que nunca cicatriza. Não porque seja impossível superá-la, mas porque, coletivamente, ainda não fez o suficiente para impedir que ela se abra de novo. O estupro, especialmente quando praticado contra vulneráveis, é um crime que ultrapassa as fronteiras da violência física: ele destrói infâncias, fere dignidades e compromete gerações. E, mesmo assim, permanece recorrente, banalizado e, por vezes, silenciado.
Em Euclides da Cunha Paulista, dois homens foram presos em ocorrências distintas, ambos acusados de estupro de vulnerável. O primeiro foi detido na quarta-feira, após uma equipe da 3ª Companhia do 42º BPM/I identificar que ele era procurado pela Justiça. O segundo foi localizado no dia seguinte durante uma operação de bloqueio de trânsito. Ambos acabaram conduzidos ao Plantão da Polícia Civil, onde permaneceram à disposição da Justiça. Os detalhes dos crimes não foram revelados e, ainda assim, a gravidade se impõe.
O que esses episódios escancaram é o mesmo grito que ecoa há décadas: até quando? Até quando será preciso registrar manchetes como esta? Até quando crianças e adolescentes continuarão sendo alvo da covardia de adultos que se aproveitam da vulnerabilidade e da impunidade? Até quando o país aceitará conviver com estatísticas que, por trás dos números, escondem vidas definitivamente marcadas?
Os casos recentes mostram que as forças policiais têm agido, identificando e prendendo suspeitos que jamais poderiam estar em liberdade. Mas o combate ao estupro não pode se limitar à resposta repressiva. É preciso educação, discussão aberta, políticas públicas consistentes, acolhimento às vítimas e uma sociedade que não se cale. Nunca.
A violência sexual não é um problema distante, nem restrito a uma parcela isolada da população. Ela atravessa lares, escolas, comunidades inteiras. Por isso, cada caso deve ser tratado não como exceção, mas como alerta. Enquanto houver uma única criança vulnerável exposta a esse crime, a urgência continuará sendo absoluta.
O estupro é um absurdo. E continuará sendo até que a sociedade pare de tratá-lo como uma tragédia inevitável e passe a encará-lo como o que realmente é: uma violação intolerável, que exige vigilância permanente, responsabilização rigorosa e um compromisso coletivo com a proteção dos mais vulneráveis.
Até quando? Até que todos decidam que basta.