O Catedrático do Samba

Sandro Villar

O Espadachim, um cronista a favor do cural e do curral

CRÔNICA - Sandro Villar

Data 26/02/2023
Horário 05:30

Convivi com muitos cantores e cantoras e até os apresentei em shows em circos, cinemas, teatros e praças. Um deles foi o sambista Germano Mathias, que foi embora deste insensato mundo na última quarta-feira. Tinha 88 anos. O pulmão dele não aguentou uma pneumonia braba. 
Aliás, idoso tem três inimigos poderosos: INSS, queda e pneumonia. Volto ao Germano Mathias. Se não me engano, apresentei uns três ou quatro shows dele na Estação São Bento do Metrô, em São Paulo. Ele era um dos cantores mais requisitados pelo projeto Quarta Musical Itaú-Metrô, apresentado pelo ilustre cidadão que escreve estas mal digitadas linhas. 
Nos tornamos amigos e, quase sempre, o nosso papo tinha o samba como mote. Uma vez o Germano, filho de um carioca, me contou que a voz mais bonita do samba era a do Roberto Ribeiro. Concordei com ele, mas, depois, lembrei-me de que, por uma questão de justiça, os cantores Roberto Silva, Cyro Monteiro, Noite Ilustrada e Jair Rodrigues também podem ser considerados donos das vozes mais bonitas do samba.
Todos grandes intérpretes do samba, que nasceu lá na Bahia e tomou forma no Rio de Janeiro. Claro, o samba tem um pé na África antes de chegar na casa da Tia Ciata, no Rio. Germano Mathias era a cara de São Paulo, assim como Adoniran Barbosa e Os Demônios da Garoa, que o meu saudoso amigo Fausto Canova chamava de Os Satanazes da Neblina (Silas Malafaia é um satanás das trevas).
Ele recebeu o epíteto de O Catedrático do Samba, título mais do que merecido. Germano Mathias, também chamado de ícone do samba paulistano, cantava samba com dignidade. Era um ritmista, assim como Dilermando Pinheiro e Jackson do Pandeiro, este também bom de samba. 
Com chapéu e sapatos brancos, como convém ao bom malandro (aqui no bom sentido), Germano arrasava nos shows cantando sucessos como "Meu Fraco é Mulher", "Guarde a Sandália Dela", "Baile do Risca Faca" e "Malvadeza Duraão". O público se divertia quando ele imitava o som do trombone com o gogó. Fazia aquele movimento com o braço para lembrar o trombone de vara. Tremendo barato. Valia o ingresso.
Depois de muito tempo, reencontrei o Germano aqui em Prudente, onde ele cantou no Sesc Thermas. Fui lá, claro. "Ô, Germano, como vai? Te apresentei várias vezes em São Paulo", lembrei. O diabo é que ele não me reconheceu e só faltou dizer "quem é você?"
Tentei refrescar-lhe a memória, mas debalde. Germano Mathias não se lembrou de mim. "Me desculpe, mas não me lembro de você", contou. Achei engraçado e levei na esportiva. Depois, ele subiu ao palco e, entre um samba e outro, fazia piadinhas. O que acho disso? Talvez seja a velhice, que não tem nada a ver com melhor idade. Melhor idade é a infância, de preferência no colo da mãe.

DROPS

Filme da Semana no Cine Brasil: Os Gananciosos, estrelando comerciantes desonestos de São Sebastião.

Quem tem pressa que alugue um disco voador.

Casamento: o que Deus uniu o celular, com a foto da outra, não separe.

Os preços dos alimentos estão mais altos do que boneco de Olinda.
 

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