O Brasil tem sofrido sanções impostas pelos Estados Unidos, com sobretaxas de 50% sobre produtos nacionais, que já produzem impactos econômicos significativos. Os efeitos vão além das exportações, atingindo diretamente o equilíbrio fiscal do país e podendo resultar em aumento da carga tributária para subsidiar esses prejuízos.
Não se trata de narrativas: o impacto é concreto. Diversas organizações brasileiras já estão se ajustando à nova realidade. No setor moveleiro de Santa Catarina, por exemplo, a Artefama, de São Bento do Sul, colocou cerca de 600 funcionários em férias coletivas. Segundo o CEO, 75% da produção são destinadas ao mercado norte-americano. Em Caçador, a Temasa, com 850 empregados, suspendeu embarques e opera sob forte incerteza. Já no setor de rochas ornamentais, o presidente da AbiRochas, Reinaldo Sampaio, alerta que não há mercado alternativo capaz de absorver o volume hoje exportado aos EUA. Na indústria de pescados, a Frescatto passou a utilizar transporte aéreo para tentar contornar as tarifas, arcando com aumento de custos que varia de 10% a 30%.
Esses exemplos demonstram que o efeito não se restringe ao agronegócio: afeta igualmente a manufatura, a indústria de transformação e cadeias produtivas inteiras. Empresas de médio porte, muitas delas localizadas em cidades dependentes da exportação, já se veem obrigadas a reduzir turnos de produção, renegociar contratos de fornecimento e adotar medidas de contenção de gastos. O efeito multiplicador recai sobre trabalhadores, fornecedores locais e sobre a arrecadação de municípios exportadores, criando um cenário de instabilidade econômica que transcende a pauta comercial.
Para mitigar os efeitos econômicos, o governo brasileiro lançou o Plano Brasil Soberano, que prevê a liberação de R$ 30 bilhões em créditos e incentivos fiscais. São medidas emergenciais necessárias, mas que provavelmente se traduzirão em elevação da carga tributária ou cortes em outras áreas do orçamento público. É importante lembrar que a economia nacional já opera sob um arcabouço fiscal restritivo, o que significa que qualquer nova despesa precisa ser compensada com aumento de receita ou redução de investimentos.
Nesse cenário, há uma dicotomia: subsidiar exportadores, garantindo a sobrevivência de setores estratégicos, mas onerando os cofres públicos; ou evitar aumento de tributos e arriscar perda de competitividade, fechamento de empresas e desemprego. Retaliações tarifárias, por sua vez, poderiam encarecer insumos importados e afetar diretamente a indústria nacional, que depende dos Estados Unidos não apenas como destino das exportações, mas também como fornecedor de tecnologia e componentes de alto valor agregado.
As sanções norte-americanas colocam o Brasil diante de uma dupla pressão: perda de mercado externo e desequilíbrio fiscal interno. Apesar de não ser imediato, é clara a tendência de que o financiamento desses estímulos e compensações recaiam sobre o contribuinte brasileiro. O consumidor final, em última instância, arca com os efeitos combinados da redução de oferta, aumento de custos e possível majoração tributária.
Diante da atual conjuntura, impõem-se duas urgências: diversificar os mercados importadores dos produtos brasileiros, reduzindo a dependência de um único parceiro comercial, e aprofundar a reforma tributária, de forma a diminuir a regressividade do sistema e tornar o país mais resiliente a crises externas. O Brasil precisa transformar este episódio em lição: não se trata apenas de reagir ao “tarifaço”, mas de repensar sua política tributária e comercial para que futuras tensões diplomáticas não recaiam sobre consumidores, pequenas empresas e municípios exportadores, que são sempre os primeiros a sentir o peso das decisões internacionais.