Em uma democracia representativa, os vereadores são a ponte mais direta entre a população e o poder público. Eleitos para representar os interesses locais, legislar sobre assuntos do município e fiscalizar a atuação do Executivo, eles carregam a responsabilidade de dar voz às demandas populares — da iluminação pública ao saneamento, da mobilidade urbana à educação de base.
Contudo, cresce entre os cidadãos uma sensação de distanciamento entre o que se espera dos vereadores e o que de fato é entregue. Em tempos de escassez orçamentária, aumento do custo de vida e descrença nas instituições, o Legislativo municipal está sob escrutínio. Não apenas pelo conteúdo e impacto das leis que produz, mas também pelo custo que representa aos cofres públicos.
Como noticiado por este diário, com 511 vereadores, as Casas de Leis das 53 cidades do oeste paulista custaram, juntas, entre janeiro e dezembro de 2024, mais de R$ 89,5 milhões aos cofres públicos. O dado é do “Mapa das Câmaras”, levantamento do TCE-SP (Tribunal de Contas do Estado de São Paulo).
Em muitos municípios, a manutenção das câmaras consome cifras expressivas. Salários elevados, verbas de gabinete, assessorias muitas vezes inchadas e estruturas administrativas pouco transparentes compõem um cenário que desafia o princípio da economicidade e da eficiência, previstos na Constituição. Não raro, gastos com diárias, viagens e benesses destoam da realidade da população que paga essa conta — muitas vezes com serviços públicos precários.
O papel do vereador deve ir além da burocracia legislativa. Espera-se protagonismo, ética, presença nos bairros, escuta ativa da comunidade e proposições que reflitam necessidades reais. Projetos de lei com impacto concreto, fiscalização efetiva do uso do dinheiro público e combate a irregularidades são obrigações, não favores.
Além disso, é essencial que os parlamentos municipais deixem de ser vistos como trampolins políticos ou espaços de barganha. A confiança pública é conquistada com trabalho contínuo, transparência e resultados. Não há mais espaço para o vereador que atua apenas em ano eleitoral, nem para o Legislativo que opera à sombra da população.
A sociedade quer e precisa de um Legislativo comprometido, austero, e acima de tudo, representativo. O custo de um vereador deve ser medido, principalmente, pelo retorno social que ele proporciona. A política local, quando bem exercida, transforma vidas. Quando não, reforça o descrédito e alimenta a apatia cívica.
É hora de os vereadores — e as Câmaras Municipais como um todo — entenderem que o tempo da política feita para poucos chegou ao fim. A cidadania exige presença, propósito e prestação de contas.