O que mais ameaça sua saúde pode não estar nos exames

OPINIÃO - Osmar Marchioto Jr.

Data 10/12/2025
Horário 05:00

Imagine que você está no pronto-socorro. À sua frente, dois pacientes. Um tem pressão alta. O outro vive isolado, sem amigos ou familiares por perto. Qual deles corre mais risco de morrer nos próximos anos?
A resposta pode surpreender: o paciente solitário.
Foi exatamente isso que revelou uma das maiores revisões científicas já feitas sobre o impacto das relações sociais na saúde. Conduzida pela pesquisadora Julianne Holt-Lunstad e sua equipe, essa meta-análise, que avaliou dados de mais de 300 mil pessoas ao longo de 7,5 anos, em média, trouxe um alerta. A ausência de vínculos sociais aumenta o risco de morte em 50%.
Para colocar em perspectiva, esse risco é equivalente ao de fumar 15 cigarros por dia. Maior do que o causado pela obesidade, sedentarismo ou consumo excessivo de álcool.
Estamos diante de um fator de risco negligenciado e difícil de mensurar. Não aparece nos exames de sangue, nem costuma ser investigado em consultas médicas. Mas está lá, corroendo lentamente a saúde física e mental de milhões de pessoas.
E por que isso acontece?
As conexões sociais, como amizades, família, vínculos afetivos e comunidades, não são apenas “coisas boas de se ter”. Elas regulam nosso estresse, fortalecem a imunidade, reduzem inflamações crônicas e nos incentivam a cuidar melhor de nós mesmos. Ter alguém para conversar, receber apoio em momentos difíceis ou simplesmente compartilhar uma refeição ativa mecanismos biológicos de proteção e longevidade.
Do outro lado, o isolamento social altera padrões hormonais, piora o sono, aumenta o nível de estresse e acelera o declínio cognitivo. O corpo entende a solidão como uma ameaça e responde com um estado de alerta crônico que, com o tempo, desgasta o organismo.
Se fosse um medicamento, o vínculo social seria considerado uma revolução terapêutica. Mas como é algo subjetivo e difícil de quantificar, costuma ser ignorado em políticas de saúde, escolas, empresas e até dentro das famílias.
É preciso mudar isso. Precisamos tratar a solidão como um problema de saúde pública, com a mesma seriedade com que tratamos hipertensão ou diabetes. E isso começa com um novo olhar. Entender que cultivar relações não é um luxo emocional, mas uma necessidade biológica.
É claro que isso não depende só do indivíduo. As cidades, os ambientes de trabalho, a cultura digital e até a forma como envelhecemos têm influenciado negativamente nossa capacidade de criar e manter vínculos. Por isso, qualquer solução real precisa ser coletiva. Criar espaços de convivência, valorizar o tempo de qualidade com outras pessoas, promover interações genuínas.
Mas também passa por cada um de nós. Telefonar para um amigo, almoçar em família, conversar com um vizinho, participar de um grupo, se relacionar mais. São gestos simples que, somados, constroem proteção e ampliam nossa esperança de vida.
No fim das contas, talvez a pergunta mais importante para a nossa saúde não seja “o que você come” ou “quanto você se exercita”. Talvez seja: com quem você se relaciona?

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