O sistema de saúde e a escola

Você já passou por algum atendimento de saúde, com qualquer profissional da área, em que a sua necessidade não se resumia no simples fato de ser avaliado e que resultaria na prescrição de um medicamento, exame ou em uma conduta clínica que não atenderia à sua expectativa? Tenho tido essa sensação em vários “encontros” com profissionais na busca por um atendimento que pudesse me notar enquanto um ser singular, rodeada por Determinantes Sociais de Saúde que definem dia a dia as minhas escolhas que permitem que eu tenha ou não saúde.
Os atendimentos de saúde parecem estar na contramão das necessidades dos usuários. O que se fazia como prática de saúde há alguns anos, em que a pessoa contava sua queixa e assim o profissional dava seu veredito e ditava sua conduta, era factível e atendia de forma eficaz as demandas agudas determinadas por doenças e agravos à saúde de curso rápido e bem delimitado. 
Entretanto, o que se observa hoje, é que a pessoa está imersa em condições crônicas de saúde que vão além do conceito de doença, uma vez que inclui outras situações de vida e que exigem uma resposta social adequada dos sistemas de atenção à saúde, pois tais circunstâncias vão adoecendo gradativamente o sujeito. Dessa forma, apenas profissionais capazes de acompanhar de forma longitudinal o processo de vida das pessoas e auxiliá-las a tomar boas decisões no dia a dia, estarão preparados para mantê-las saudáveis.
Agora, o “X” da questão é: como mudar o paradigma do atendimento de saúde que atualmente está pautado na doença para um acompanhamento de saúde que considere a singularidade da pessoa? Essa dúvida vem sendo discutida por vários autores e, embora a saída demande o envolvimento de diversos setores da sociedade, todas as perspectivas de respostas se convergem quando afirmam que uma das formas mais potentes para mudar um modelo vigente, é a educação.
A evolução contínua da forma de se viver tem exigido o aprimoramento das habilidades humanas para pensar, sentir e agir de forma abrangente e profunda e, faz parte das funções das universidades, contribuir para que seus egressos compreendam e acompanhem tal avanço. É inequívoco que processos formativos tradicionais com o ensino centrado no saber do professor resultarão em profissionais “copiadores” de condutas que repetirão as prescrições memorizadas, que não atenderão a singularidade do sujeito que o procura com sua “cesta de necessidades”.
Processos formativos centrados no estudante são capazes de elevá-los ao patamar de profissionais aprendentes que de forma empática, responsável e acolhedora, pautam seu fazer profissional nas evidências científicas, nas Tecnologias de Saúde e nos Determinantes Sociais. Da mesma forma que o sujeito que procura por atendimento de saúde precisa ser incluso na sua terapêutica, o engajamento do estudante em relação a novas aprendizagens, pela compreensão, pela escolha e pelo interesse, é condição essencial para ampliar suas possibilidades de exercitar a liberdade e a autonomia na tomada de decisões nos diferentes momentos do processo que vivenciará, preparando-o para o exercício profissional também centrado no sujeito.

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