Obesidade: gene FTO e ambiente

Jair Rodrigues Garcia Júnior

É da natureza humana (e também cultural) procurar culpados pelos próprios males e também quem pode solucionar o problema, com o mínimo de esforço pessoal. Sobrepeso (índice de massa corporal - IMC > 25 Kg/m2) e obesidade (IMC > 30 Kg/m2) são uma pandemia que provoca dezenas de milhões de mortes anualmente. Além das próprias pessoas que sofrem desses problemas, há profissionais de saúde que eximem os pacientes “da culpa” pelo excesso de peso. 

O CULPADO
A procura por um culpado pela obesidade encontrou um candidato em 2007, o gene FTO (Fat Mass and Obesity-Associated), que foi relacionado ao aumento do IMC e à obesidade. O FTO parece estimular o aumento da fome/apetite e redução da saciedade, aumento do consumo de gorduras e calorias, escolhas e hábitos alimentares inadequados, provoca a perda de controle nervoso hipotalâmico sobre a alimentação e aumento a adipogênese (células adiposas). Todos nós temos o FTO, porém a expressão (“ativação”) dele é maior em algumas pessoas, o que aumenta o risco de obesidade em 20-30%.

SUPRESSÃO DO FTO
Que tal uma terapia para suprimir (“silenciar”) o FTO? O fato é que o FTO deve se expressar e ser funcional para manter as funções fisiológicas normais. A disfunção do FTO provoca retardo do crescimento pós-natal, microcefalia, atraso psicomotor grave, déficits funcionais cerebrais e dismorfismo facial. Em adultos, a deleção (exclusão) do FTO resulta em perda severa de massa muscular. 

Indivíduos fisicamente ativos têm atenuação de cerca de 30% no risco aumentado de obesidade provocado pelo gene FTO

MITO OU VERDADE
Há um gene da obesidade. Verdade! O FTO, quanto tem sua expressão aumentada influencia o consumo alimentar e acúmulo de gordura. Estima-se que o risco de obesidade seja de 20 até 67% maior em algumas pessoas.

O gene FTO é determinante da obesidade. Mito! Todos nós temos o FTO e, mesmo nas pessoas com expressão aumentada desse gene, o ambiente, os hábitos e o estilo de vida influenciam fortemente se a pessoa se tornará ou não obesa. A genética conta entre 40 e 60% para essa doença.

O ambiente tem maior influência do que a genética. Verdade! A obesidade é uma condição multifatorial. Alimentação inadequada, sedentarismo, fatores emocionais e sociais têm peso significativo no desenvolvimento da doença. É importante lembrar que o ambiente moderno tem características “obesogênicas”, ou seja, estimula ao consumo de alimentos ultraprocessados, porções grandes e altamente calóricas. Ao mesmo tempo, desestimula o movimento com várias facilidades para locomoção (carros, motos, elevador, escadas e esteiras rolantes etc). Estudos sobre o FTO demonstraram que, indivíduos fisicamente ativos têm atenuação de cerca de 30% no risco aumentado de obesidade provocado pelo gene.

A epigenética pode neutralizar o efeito do FTO. Verdade! A epigenetíca se refere a mecanismos químicos que “silenciam” ou “ativam” genes fazendo sua influência ser menor ou maior em funções fisiológicas (ex. acúmulo de gordura, aumento da massa muscular, envelhecimento). Esses mecanismos podem ser ativados positivamente por dieta equilibrada, prática de exercícios, sono adequado, controle do estresse e outros.

Portanto, mesmo que a pessoa tenha o gene FTO ativado e propensão genética para a obesidade, o destino não está definido, desde que essa pessoa assuma a responsabilidade sobre o ambiente, hábitos e estilo de vida.

Referências

Babenko V, Babenko R, Gamieldien J, Markel A. FTO haplotyping underlines high obesity risk for European populations. BMC Med Genomics. 2019; 12(Suppl 2): 46. http://dx.doi.org/10.1186/s12920-019-0491-x 

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