Onça-parda segue desaparecida e equipes cessam buscas em Prudente

Caso animal seja visto novamente, populares devem acionar Corpo de Bombeiros ou Polícia Ambiental e jamais tentarem resgatá-lo ou deixá-lo acuado

PRUDENTE - CAIO GERVAZONI

Data 16/11/2021
Horário 17:40
Foto: Reprodução
Onça-parda atravessou Parque do Povo antes de desaparecer em mata
Onça-parda atravessou Parque do Povo antes de desaparecer em mata

Viralizou nas redes sociais o vídeo da onça-parda que atravessou o Parque do Povo, em Presidente Prudente. Ontem, este diário noticiou que a Polícia Militar Ambiental e o Corpo de Bombeiros entraram na mata da Avenida 11 de Maio, na altura da clínica Cardiovida - para onde o animal fugiu -, a fim de localizá-lo. 

O tenente Marcel Soares Silva, da 3ª Companhia da Polícia Militar Ambiental de Prudente, fala sobre o processo de busca pelo bicho, que não foi capturado. “Ontem, após receber as denúncias de que a onça estaria pelo Parque do Povo, nossa equipe de plantão, junto a homens do Corpo de Bombeiros, foi até o local e constatou que ela adentrou a mata ali perto. Depois, eles fizeram uma incursão na mata, mas não encontraram o animal, apenas rastros dele”, relata.

Foto: Cedida - Agentes vistoriaram mata para tentar localizar onça-parda

Marcel conta que, na região da mata, há um túnel e que há a possibilidade do felino ter saído por esta passagem ou, até mesmo, ainda estar no arvoredo.

Questionado se a Polícia Ambiental pretende continuar as buscas pela onça-parda, o tenente pontua: “Então, o animal tem que ficar solto na natureza. Para a gente tomar alguma atitude de captura, só se realmente ela for vista novamente dentro da cidade, em alguma residência. E ainda assim, para capturar, é preciso um veterinário com os instrumentos específicos para o procedimento”. 

Caso o animal seja visto novamente, é recomendável entrar em contato com o Corpo de Bombeiros por meio do 193 ou com a Polícia Ambiental através do telefone (18) 3906-9200. 

“Nós orientamos que ninguém tente fazer esta captura. Apesar desta espécie ter indícios raros de ataques a seres humanos, o animal se sente acuado. O ideal é deixar ele seguir o caminho natural dele”, argumenta o tenente. Para Marcel, em uma situação hipotética em que a onça-parda volte a ser vista em ambiente urbano, a recomendação é manter a calma, não virar as costas para o animal e afastar-se lentamente, “sempre de frente para o animal”.

“Como havia dito, são raros ataques de onças-pardas a seres humanos. Porém, pode acontecer quando o animal se sente acuado. A gente aconselha a jamais sair correndo, porque a presa do animal tem o hábito de fugir, então, quando ele vê alguém fugindo pode achar que é uma presa e há uma possibilidade de ir atrás”.

Perda do habitat

Na perspectiva do ambientalista Djalma Weffort, presidente da ONG (organização não governamental) Apoena (Associação em Defesa do Rio Paraná, Afluentes e Mata Ciliar), em linhas gerais, os motivos do aparecimento da onça-parda na zona urbana são variados. “Pode ser originário de redução do habitat pelo desmatamento, pode ser consequência da perseguição pelo homem para a caça e, também, pode ser resultado dos vários incêndios”, expõe o ambientalista. 

Para Djalma, a alta quantidade de queimadas ao longo do ano faz com que os animais acabem fugindo do habitat destruído pelo fogo e, apesar do período de incêndios ter passado, estes espécimes “podem ainda estarem errantes e vagando”. “Tudo isso é de difícil comprovação. Uma outra situação é que a população da onça-parda, ao contrário da onça-pintada, está aumentando gradativamente pelas observações que nós fazemos, e, então, os bichos precisam procurar outros ambientes para constituir novas famílias, conseguir alimentação e abrigo. Neste caminho de sair de uma mata para outra, estes animais podem acabar se perdendo. Tudo que temos são possibilidades, pela simples razão de que não há estudos mais aprofundados sobre a espécie na região”. 

O ambientalista especula que é possível que a onça-parda esteja sem comida, com fome, e que se porventura o felino seja resgatado, é importante que haja o envolvimento de um profissional veterinário para analisar o animal. “As providências a serem adotadas neste caso seria, se possível, ter um envolvimento da universidade: coletar o sangue e fazer uma análise do bicho, caso seja resgatado com vida ou mesmo se o encontrarem morto”. Depois da triagem, indica Djalma, o animal, caso esteja vivo, deveria ser devolvido à natureza. 

Relatos de quem viu

A engenheira ambiental Laís Olbrick avistou o animal da janela de sua casa, na esquina da Avenida da Saudade com o parque. "Como já trabalhei com fauna, identifiquei pela cauda que era uma onça-parda. Foi tudo muito rápido, liguei para a Polícia Ambiental e já desci para tentar encontrar", expõe.

Outra testemunha foi Pedro Henrique do Nascimento, de 53 anos, que trabalha com uma cama elástica no Parque do Povo. Ele disse que, na ocasião, havia um casal com uma criança brincando e, ao perceber o animal, a mulher pediu para que o homem a segurasse, com medo de que a onça a atacasse. "A onça atravessou perto deles e fugiu", afirma.

Foto: Cedida - Pedro Henrique do Nascimento viu a passagem do animal pelo Parque do Povo

Puma concolor

Onça-parda, suçuarana, onça-canguçu: estes são os nomes vernaculares da espécie felina de nome científico Puma concolor segundo o livro “Fauna Ameaçada de Extinção no Estado de São Paulo – vertebrados”, da SMA (Secretaria Estadual do Meio Ambiente) e da Fundação Parque Zoológico. De acordo com a obra, a onça-parda é um felino de grande porte cujo peso para espécimes, que ocorrem no Brasil, pode variar de 25 a 60 kg. O animal adulto tem uma pelagem de coloração uniforme, que varia do marrom-avermelhado ao marrom-acinzentado, sendo que a ponta da cauda é preta. A Puma concolor se alimenta de presas pequenas como tatús, preás, cutias e pacas - e grandes – como capivaras e porcos-do-mato.

Ainda conforme o livro, a onça-parda possui a maior distribuição geográfica entre os mamíferos das Américas. Pode ser encontrada desde o norte do Canadá até o extremo sul da América do Sul. No Brasil, o felino está distribuído por todos os biomas. No Estado de São Paulo, a onça-parda está presente em todas as regiões e pode ser vista, inclusive, em áreas antropizadas, ou seja, uma área cujas características originais foram alteradas pela ação do homem. As principais ameaças para este espécime são pastagens, monocultura e construção de barragens para produção de energia elétrica. Apesar da plasticidade em se adaptar a outros locais, a descaraterização e fragmentação do habitat natural da onça-parda gera impactos populacionais a estes animais, que têm entrado em conflito direto com populações humanas, sendo capturados ou mortos de forma indiscriminada. 

Não foi a 1ª vez

No início do mês passado, câmeras de segurança de uma conveniência registraram a presença de uma onça-parda circulando, durante a madrugada, por uma rua do Jardim Vale do Sol. Ainda neste ano, em meados de setembro, uma família avistou um felino de grande porte em uma avenida do Parque Residencial Funada. A Polícia Ambiental também indica que houve relatos de avistamento de onça-parda nas proximidades do Balneário da Amizade

O caso de um felino de grande porte “praticando um tour” pela região do Parque do Povo causou alvoroço e espanto nas redes sociais.

Fuga de um leão

Há cerca de 60 anos, como relata o jornalista Altino Correia, um grande felino que circulou pela cidade também trouxe muito burburinho. No caso, foi um leão que fugiu do Gran Circo Norte-Americano, que, naquela ocasião, estava em turnê por Prudente. Segundo Altino, o circo estava instalado na região onde, hoje, fica o Prudenshopping.

“Era um circo que tinha uma grande quantidade de animais. Numa noite, o leão escapou e começou a circular pela cidade. Houve uma mobilização policial grande, chamaram o Tiro de Guerra, Polícia Militar e tudo mais para prender este leão, mas não conseguiram. Quando o leão apareceu, meteram bala nele para matar o animal”, narra o jornalista.

Conforme rememora Altino, o cadáver do leão foi adotado pelo médico Washington Siqueira e empalhado pelo processo de taxidermia. “Depois, ficou em exposição no Museu Histórico Municipal até ser adotado pelo padre Francisco Leão, candidato à Câmara Federal, para sua campanha e, mais tarde, eleito, devolveu o leão empalhado, que foi transferido - segundo se comenta - para a Polícia Ambiental, antiga Policia Florestal em Presidente Prudente”, completa Altino.

Hoje, segundo a Polícia Ambiental, só resta a cabeça do leão e ela se encontra no Aecin (Acervo Educacional de Ciências Naturais) da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista)

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