Os grandes mestres são contagiantes!

OPINIÃO - Raul Borges Guimarães

Data 17/01/2021
Horário 04:30

Mais uma semana com muitas mortes por Covid-19 no Brasil. Perdemos o ilustre Dr Trevisi. Uma profunda tristeza tomou conta do meu coração...
Há mais de dez anos, eu tive a honra de ser atendido pelo Dr Hugo Trevisi para uma correção da arcada dentária. O Dr Trevisi nem precisava mais atender diretamente os pacientes, mas dizia que aquele contato era a sua fonte de inspiração e de sensibilidade científica! Não era por acaso que ele tinha o seu principal livro traduzido em diversas línguas (até mesmo o árabe, o russo e o chinês). Com sua simplicidade e incansável dedicação à disseminação de sua filosofia de tratamento biomecânico das problemáticas oclusões dentárias, ele foi um dos principais responsáveis pelo respeito internacional à ortodontia brasileira. 
Em seu instituto de pesquisa, Dr Trevisi atendia simultaneamente cinco pacientes, numa espécie de aula prática. Não raras vezes ele parava diante da minha boca aberta e explicava algum detalhe do tratamento para alunos estrangeiros: colombianos, equatorianos, mexicanos. Eu ficava olhando para o brilho de seus olhos, absolutamente concentrado (grandes mestres são contagiantes!) e me lembrava do professor de biologia que acendeu em mim o interesse pelo conhecimento científico. Isto ocorreu na década de 1970, quando estava cursando o ensino médio. O professor Carlos utilizava um material didático que guardo comigo até hoje - a adaptação brasileira do “Biological Science Curriculum Study” (o famoso BSCS), publicado pelo Instituto Brasileiro de Educação e Cultura em parceria com a Universidade de Brasília.   
Qual seria o elo de ligação entre as páginas do BSCS folheadas por mim nas aulas de biologia quando jovem e as mãos deslizantes do Dr Hugo Trevisi pela minha arcada dentária? 
No país da ignorância reinante, dos fantasiosos tratamentos precoces sem evidências científicas, a mensagem está confusa. A crise sanitária que assola o Brasil e o mundo está longe de uma solução. Não. Não se trata de uma “gripezinha”. Informações enganosas provocam danos irreversíveis, aumentam riscos, ceifam vidas.    
Daí eu vejo com clareza os grandes mestres na minha frente... Eles nos ensinam que a realidade é sempre um desafio. Que é preciso buscar a vida real no que aparenta estar no fim. Problematizar nosso dia a dia na busca incessante da coerência do que se diz com o que fazemos. Assim, repentinamente, tudo cresce e flui. A redação vira corpo e habita entre nós. Diante das respostas fáceis, o silêncio sempre foi melhor que a fala! Dr Hugo Trevisi, presente!
 

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