O palco do TEDx Unoeste foi o cenário para uma experiência transformadora. Com a sua habitual delicadeza e poder de oratória, o poeta e cantor prudentino Pedro Salomão utilizou a técnica de storytelling para mergulhar o público em uma jornada de emoções e reflexões, provando que as maiores lições da vida podem vir dos atos mais simples e das pessoas mais inesperadas.
Pedro abriu sua palestra com uma história marcante: a de sua tia-avó, uma senhora de 90 anos com Alzheimer que, apesar de não guardar as memórias recentes, carregava no bolso as sementes de todas as frutas que comia. Era um hábito tão enraizado que nem a doença o apagou. Com cada semente, ela plantava uma nova vida, uma nova árvore. A vida dela, em vez de ser uma simples história, tornou-se uma floresta de pessegueiros, limoeiros e jabuticabeiras, dando frutos e sombra para o mundo. "O mundo se lembraria dela em forma de pé de pêssego", disse o palestrante.
Essa metáfora poderosa serviu como ponto de partida para a tese de Pedro: a vida não precisa ter um sentido pré-determinado para ser vivida. A nossa missão é dar sentido a ela através de atos de carinho e generosidade, como plantar sementes todos os dias.
O palhaço e o sorriso
que a doença não apaga
O palestrante compartilhou sua experiência como palhaço de hospital, onde testemunhou a resiliência do espírito humano. Ele falou sobre a "graça", que, diferentemente do humor, é a capacidade de levar alegria e alívio para quem mais precisa.
Pedro relatou a história de um casal que enfrentava o terceiro câncer da esposa. Em meio às sessões de quimioterapia, eles riam de vídeos engraçados. O marido, em um ato de puro amor, raspou o próprio bigode — a coisa mais importante para ele — para que a esposa não se sentisse sozinha ao perder o cabelo. Para Pedro, "o segredo do amor é o companheirismo, a reciprocidade" e a certeza de que "a vida não é um mar de rosas, mas se a gente tem um olhar atento, a gente consegue encontrar pelo menos uma florzinha todos os dias".
A missão de brincar
e o sentido da Vida
O momento mais tocante da palestra foi o relato sobre um menino de quatro anos, o Zé Henrique, que lutava contra a leucemia. Inicialmente, Pedro se sentiu impotente diante da injustiça da situação. Ele queria "curar" o menino, esquecendo de sua verdadeira missão como palhaço: levar a graça.
Em vez de se desesperar, ele fez uma espada de bexiga para o garoto, que imediatamente se animou e gargalhou. Foi a risada que a mãe do menino não ouvia há tempos. Naquele instante, Pedro compreendeu que cada um tem um papel nessa "rede de apoio": o médico, a enfermeira, o cientista e, claro, o palhaço. Sua missão não era curar, mas dar a uma criança a oportunidade de viver sua infância, mesmo que por cinco minutos.
A palestra de Pedro Salomão foi um lembrete de que o sentido da vida não é algo a ser encontrado, mas sim a ser construído e cultivado. Se a vida não tem sentido, "que pelo menos ela tenha graça", resumiu o poeta. Essa graça, segundo ele, é um ato diário de plantar sementes de gentileza, compaixão e amor, transformando a nossa jornada em uma floresta de significado.
