Pesquisador de universidade de Prudente participa de simulado de acidente nuclear no Rio

Convidado pela Força Aérea Brasileira, Edson Ramos de Andrade faz parte de equipe que desenvolve modelos realistas para simulação de eventos radioativos

PRUDENTE - DA REDAÇÃO

Data 17/08/2023
Horário 16:01
Foto: Cedida
Edson tem participado de exercícios de acidente nuclear em todos os continentes
Edson tem participado de exercícios de acidente nuclear em todos os continentes

Nesta semana, está acontecendo na central nuclear em Angra dos Reis (RJ) o Exercício Geral Integrado de Resposta à Emergência e Segurança Física Nuclear. A operação complexa, que envolve civis e militares, tem como objetivo avaliar a eficácia da estrutura de resposta, validar planos, identificar aspectos e consolidar os procedimentos previstos no Plano de Emergência Externo do Estado do Rio de Janeiro para a Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, voltado à proteção da população, do meio ambiente, das usinas nucleares e de seus trabalhadores. Um pesquisador vinculado à Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), de Presidente Prudente, participa desse simulado de acidente nuclear que recebe cobertura jornalística internacional.

Convidado pela FAB (Força Aérea Brasileira), Edson Ramos de Andrade, professor do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional, participa de uma equipe de cientistas que desenvolve modelos realistas para simulação de eventos nucleares, contaminações radioativas de zonas habitadas e plumas de contaminação radioativa 3D com vistas à segurança de voo. Trabalho desenvolvido no IEAv (Instituto de Estudos Avançados) do DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial), em São José dos Campos (SP). Na Unoeste, Edson trabalha com impactos ambientais.

O simulado do plano de emergência das usinas nucleares de Angra dos Reis, realizado pela Eletronuclear, empresa de economia mista vinculada à Eletrobras, envolve centenas de profissionais que atuam em órgãos municipais, estaduais e federais, e também entidades e instituições civis e militares, dentre as quais a Comissão Nacional de Energia Nuclear, Marinha, Exército, Aeronáutica, Defesa Civil, Ministério da Saúde e polícias Militar e Rodoviária Federal. Em hospitais de campanha, são oferecidos diversos serviços gratuitos de saúde à população, como faz a Unoeste, nos mesmos moldes, com o programa "Unoeste Transforma".

Trajetória e lugar de mérito

“Como o IEAv participa do exercício geral das usinas nucleares de Angra dos Reis e eu tendo alguma experiência neste tipo de atividade, fui convidado a participar no campo da DQBRN [Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear]”, conta, explicando o motivo de estar inserido nessa elite de prevenção de acidente nuclear. Sua formação inicial foi na EEAR (Escola de Especialistas de Aeronáutica), nos anos 1980, em Guaratinguetá (SP). Depois, esteve em outras escolas militares. Como oficial do Exército, tem se dedicado a operar em ambientes hostis. Iniciou sua vida como especialista em armamento e explosivos operando na Aviação de Caça em Natal (RN).

“Esta formação me permitiu desenvolver desde cedo a consciência e a prática da segurança, fundamental para lidar na área da energia nuclear. Com o passar do tempo, juntamente com estudos contantes, a experiência e conhecimento se desenvolvem e oportunidades vão aparecendo ou sendo criadas”, explica. Edson, que é formado em Física pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e Gestão Ambiental pela Unesa (Universidade Estácio de Sá), possui especializações pela EsAO (Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais do Exército) no campo do terrorismo radiológico no contexto das ciências militares.

Fez mestrado em Engenharia Nuclear no Coppe (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia), da UFRJ; doutorado em Bioquímica Toxicológica e Radiobiologia na UFSM (Universidade Federal de Santa Maria); doutorado em Engenharia Nuclear no Coppe; e pós-doutorado em Radioecologia no IRD (Instituto de Radioproteção e Dosimetria), da CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear). Trajetória construída juntamente com a atuação como professor de pós-graduação, em mestrados e doutorados, em programas de universidades e institutos públicos no Brasil e no exterior, incluindo a Universidade de Cranfield, na Inglaterra.

Em todos os continentes

“Numa perspectiva operacional recente, tive participação efetiva no campo da segurança radiológica e nuclear dos grandes eventos realizados no Rio de Janeiro, no período de 2011 a 2016. Estes eventos foram a visita oficial do Papa ao Brasil, os Jogos Mundiais Militares, a Copa das Confederações, Copa do Mundo Fifa e os Jogos Olímpicos de 2016, em que, na maioria das oportunidades, atuei como oficial de ligação para defesa química, biológica, radiológica e nuclear indicado pelo CTEx [Centro Tecnológico do Exército]”, relata.

“A interação profissional provocada pela intensa atividade no trinômio acadêmico-científico-operacional fez com que, aos poucos, minha presença fosse desejável junto às equipes de profissionais que conduziam atividades no campo da energia nuclear. Foi um processo natural”, comenta ele, que, desde 2010, é inspetor delegado e instrutor representante do Brasil no Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares, com sede em Viena, Áustria, sob jurisdição da ONU (Organização das Nações Unidas).

“Ao exercer esta função, tive a oportunidade de participar de inúmeros exercícios como este, em todos os continentes e em todos os climas que se apresentam no planeta ao longo dos últimos 13 anos”, pontua. A operação em Angra dos Reis, devido à importância, esteve na agenda do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, general Marcos Antonio Amaro dos Santos, com a programação de sobrevoo de helicóptero na área de realização do exercício.

Ganhos significativos

Em relação a participar dessa nova operação de simulado de acidente nuclear, Edson afirma que o ganho se materializa pela oportunidade de operar em um ambiente multidisciplinar, obrigando a conceder espaços e exercitar a negociação, o que leva a incrementos nos níveis de autoconhecimento. “Percebo também melhoria na motivação para auxiliar os que estão aprendendo e, sobretudo, no desenvolvimento interpessoal, ajudando também a melhorar as condições de relacionamento nos ambientes que frequento”, avalia.

Quanto ao ganho profissional, comenta que este se realiza pela oportunidade de atualização com relação às técnicas e procedimentos, além de exercitar a coordenação entre agências diferentes e com modos de operação muitas vezes divergentes. “Regular um ambiente colaborativo e respeitoso tem efeito positivo e imediato sobre a gestão dos recursos, de toda sorte, disponíveis para a solução dos problemas que se apresentam”, afirma. Sobre o ganho institucional da Unoeste, entende ser uma oportunidade especial no sentido de desenvolver projetos que buscam integração de esforços para solução de problemas, isto em uma forma nativa.

“Está no DNA do programa a pegada da metadisciplinaridade e integração de capacidades. A participação da Unoeste em um evento desta magnitude acelera muito o processo de atualização e elevação da qualidade das propostas científicas que decorrem da experiência. Mais ainda com relação à formação de pessoal de alto nível, mestrado e doutorado, trazendo uma prática rara que vai desde a simulação computacional do evento, passando pela logística e terminando no suporte à tomada de decisão e modelagem de consequências. Isso tudo é oferecido de forma lógica aos estudantes no processo ensino-aprendizagem”, assegura.

Relação com universidade

Edson conta que sua relação com a Unoeste nasceu em 2017, quando se interessou pelo programa voltado à atividade de meio ambiente numa perspectiva de integração de capacidades e multidisciplinar em alto nível. “Cheguei à Unoeste por meio de busca simples na internet. Resolvi entrar em contato com a coordenadora, Alba Arana. Para minha surpresa, houve retorno quase que imediato e iniciamos conversas sobre a possibilidade de cooperação e trabalhos que culminaram em participações em eventos, artigo internacional publicado em revista indexada e alguns palpites meus em trabalhos sob sua orientação”, conta.

“Os anos foram passando e a cooperação informal ocorrendo, mesmo diante da crise sanitária mundial. Cinco anos depois, no primeiro semestre de 2023, houve uma oportunidade de ingresso formal no corpo docente do programa e iniciamos um trabalho que hoje, alguns poucos meses depois, conta com quatro estudantes, dois de mestrado e dois de doutorado, com trabalhos submetidos a eventos e artigos submetidos a revistas indexadas internacionais, em um grupo criado no diretório de grupos do CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico] sob minha coordenação”, pontua.

Diz ainda que projeto submetido para apreciação do CNPq, via edital universal, resulta na criação de um laboratório de simulação computacional de eventos de contaminação e estimativa de resiliência urbana. “A recepção da Unoeste, dos estudantes, colegas e da coordenação do programa em que atuo não poderia ter sido melhor. Por isso, sou grato e confiante de que bons frutos deste esforço virão em breve”, estima o pesquisador, que leva o nome da Unoeste para junto da comunidade científica envolvida no evento de projeção internacional, realizado no Rio de Janeiro de 15 a 18 de agosto.

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