Por que parece ser tão difícil aprendermos algo novo quando estamos mais velhos?

OPINIÃO - Amanda Whitaker Piai

Data 22/07/2025
Horário 04:30

Essa é uma pergunta que muitos de nós fazemos quando tentamos iniciar um curso, um idioma ou mesmo um novo hobby depois de adultos. O que antes parecia tão mais simples como aprender a andar de bicicleta ou memorizar conteúdos na escola, hoje requer esforço, concentração e, muitas vezes, uma paciência que nem sempre temos. Mas por que isso acontece?
Quando somos crianças ou adolescentes, nosso cérebro está em plena expansão. Ele é naturalmente mais plástico, ou seja, tem maior capacidade de criar novas conexões neurais, o que facilita o aprendizado. Cada novidade é recebida com curiosidade e, principalmente, menos medo de errar. Na infância, o erro faz parte do processo, enquanto na vida adulta o erro muitas vezes é visto como sinal de incapacidade ou incompetência. E é justamente aí que começam os bloqueios.
Conforme crescemos, acumulamos experiências, responsabilidades e regras sobre nós mesmos. Muitas vezes já criamos rótulos internos: "não tenho cabeça para isso", "sou muito velho para aprender", "não nasci para isso". Essas regras funcionam como barreiras invisíveis que nos desanimam antes mesmo de tentar. O medo de parecer incapaz, de não dar conta, de não ser tão rápido quanto antes, vai minando a disposição necessária para aprender algo novo.
Além disso, o adulto precisa conciliar o aprendizado com uma rotina já cheia: trabalho, família, finanças, autocuidado. O tempo que antes era dedicado quase que integralmente a descobrir o mundo, agora é fragmentado por inúmeras tarefas. E aprender exige tempo, persistência e prática. Não é só a mente que precisa estar disponível, mas o corpo e o cotidiano também.
Mas isso não significa que aprender depois de adulto seja impossível, pelo contrário. A neurociência já mostrou que nosso cérebro continua capaz de se transformar e aprender durante toda a vida, isso é o que chamamos de neuroplasticidade. A diferença é que, para o adulto, o processo de aprendizado demanda mais intenção, planejamento e gentileza consigo mesmo. É preciso lidar com o desconforto de não saber, sustentar a frustração de errar, e ter paciência com o próprio ritmo. 
Aprender algo novo quando estamos mais velhos também pode ser um poderoso exercício de humildade e flexibilidade. Significa aceitar que ainda temos o que descobrir, que não somos uma obra pronta, e que sempre haverá espaço para o novo, mesmo que ele venha acompanhado de dificuldades. 
E talvez o maior segredo não esteja em ser rápido ou eficiente, mas em resgatar a curiosidade que tínhamos na infância. Aprender com prazer, com leveza, com menos cobrança e mais presença. Quando foi a última vez que você se permitiu passar pelo processo de ser ruim em algo novo?

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