Primeira travessia aérea do Atlântico Sul

António Montenegro Fiúza

«Mote
Como quem vai a Cacilhas,
Foram ao Rio de Janeiro!
Glosas
O Sacadura Cabral
e mail’o Gago Coutinho,
botaram pés a caminho,
sem medo do temporal.
Almoçando em Portugal,
voaram milhas e milhas,
merendaram sobre as ilhas
e seguindo as forças varias,
foram jantar ás Canarias
Como quem vae a Cacilhas! (…) 

Oriundos de um país de heróis e de feitos grandiosos, lançaram-se os lusitanos, mais uma vez, a desbravar caminho e a demonstrar que entre o possível e o impossível, estende-se a ponte da vontade e da dedicação. Desta feita, fizeram-no pelos ares! E, assim, nos primeiros dias da primavera de 1922 – há uma centena de anos atrás, Sacadura Cabral e Gago Coutinho partiam de Lisboa rumo ao Rio de Janeiro, naquela que seria a primeira travessia aérea do Atlântico Sul.
Nessa data, comemoravam-se os 100 anos de independência do Brasil e tão ousada empreitada buscava homenagear ambos os países e celebração tão valorosa. Não apenas o fez, como uniu nesse abraço transatlântico os Açores, as Canárias e Cabo Verde.
Para garantir o sucesso da viagem, foram convocados dois navegadores exímios e experientes: o piloto, Sacadura Cabral, que havia nascido em Celorico da Beira e comemoraria o 41º aniversario, nessa travessia e quem é considerado e reverenciado, até aos dias que correm, um aeronauta brilhante, distinto pela intrepidez e pela inteligência; e o  cartógrafo e navegador, Gago Coutinho, esse, um pouco mais velho e natural de Faro, quem, para além de Oficial da Marinha Portuguesa, também fora historiador e geógrafo. Ambos haviam protagonizado outras travessias aéreas, igualmente arriscadas e históricas mas não tão ousadas quanto essa.
Especialmente para tal expedição, desenhou-se e produziu-se um hidroavião monomotor, ao qual se deu o nome de Lusitânia; Sacadura Cabral e Gago Coutinho serviram-se dos conhecimentos náuticos e aeronáuticos e, contrariando toda a exiguidade de meios técnicos, materiais e de equipamentos, criaram o sextante de bolha artificial e o "corretor de rumos”. 
Homenageados em todos os países e cidades por onde passaram, até ao dia de hoje são relembrados, pelos seus feitos e pelo contributo concedido à aviação lusófona e mundial.

«(…) Voltaram de novo ao ar
e como ninguém se perde,
com vontade de cear
desceram em Cabo Verde.
Mas sedentos de voar,
e como tempo é dinheiro,
depois de um sono ligeiro
sobre uma rocha danada,
para provar goiabada
foram ao Rio de Janeiro.»

Caim 
 

Publicidade

Veja também