Produtor agroecológico defende uso das plantas alimentícias não convencionais

Nutricionista acrescenta que as panc são ricas em fibras, antioxidantes e proteínas, inclusive, com concentrações de nutrientes superiores a outras culturas utilizadas no dia a dia

PRUDENTE - WEVERSON NASCIMENTO

Data 12/12/2020
Horário 04:00
Foto: Weverson Nascimento
Marcelo defende o uso das panc e adotou a cultura como estilo de vida
Marcelo defende o uso das panc e adotou a cultura como estilo de vida

Cariru, beldroega, vinagreira, jambu, mastruz, ora-pro-nóbis, entre outras espécies, são panc (plantas alimentícias não convencionais) que têm grande potencial nutritivo e já foram muito utilizadas pelos antepassados para compor as refeições cotidianas. Hoje um tanto negligenciadas, elas podem ser encontradas facilmente por aí e, sabendo identificá-las, podem ser usadas em muitas receitas. Em Presidente Prudente, o produtor agroecológico e engenheiro ambiental, Marcelo Lopes, defende o uso das espécies e adotou a cultura como estilo de vida.
De acordo com Marcelo, criador do espaço “Quintal - Experimentações agroecológicas” em Presidente Prudente, o conhecimento das panc – acrônimo popularmente utilizado no singular – não está fortemente ligado ao conhecimento técnico-científico, pois trata-se ainda de um conhecimento popular e intergeracional. A sua dedicação com as plantas alimentícias não convencionais foi passada entre gerações, uma vez que seus pais agricultores consumiam as espécies que não são valorizadas no meio urbano. “O meu interesse em aumentar a gama de conhecimento surgiu por volta de 5 anos e passou a ser o meu estilo de vida. É entender que toda sociedade acaba girando em torno da comida e a gente não percebe isso. Hoje, eu estudo essas plantas e busco utilizá-las como farinhas, geleias, compotas, cores e pigmentos naturais, ou seja, infinitas possibilidades”, explica. 

Benefício das plantas

O benefício principal dessas plantas, segundo Marcelo, é com relação à saúde, uma vez que a pessoa foge da monotonia (ausência de variedade) e acaba tendo uma diversidade de itens. Em suas palavras exemplifica que o individuo sai de 15 espécies as quais consome no cotidiano, para mais de 200 panc, ou seja, uma diversidade de nutrientes, minerais, vitaminas e carboidrato para a alimentação. No entanto, assim como todas as plantas precisam de conhecimento para o seu preparo, as plantas alimentícias não convencionais não fogem desta necessidade. “Exemplo, a batata não se come crua. Essa informação, portanto, foi explorada e ensinada, e todos sabem que ela precisa de um preparo, seja assada, cozida, frita ou purê. Logo, o mesmo acontece com as panc”, explica. “A gente acredita que esse tipo de conhecimento botânico, culinário ou da cultura alimentar tem que ser ensinado. Afinal, o que mais nos une é a cultura alimentar”, acrescenta.
O engenheiro ambiental explica que essas plantas são encontradas em todos os lugares, desde o contexto urbano – canteiros e jardins – em que a maior parte da população tem contato com elas todos os dias e não sabem do seu potencial alimentício, e até mesmo no ambiente rural – visto como ervas daninhas –, onde não são cultivadas por conta de uma erosão da cultura alimentar. Deste modo, as formas as quais os indivíduos consomem são totalmente solvidas e acabam entrando no que chamam de uma monotonia alimentar, o que traz “enormes problemas”. “Temos um déficit botânico e a maior parte das pessoas acaba não sentindo esse pertencimento à natureza. Atualmente, a gente consegue visualizar isso em algumas crianças que deixam de entender a comida como algo que surge do solo, da comunidade cultivável, e compreendem como alimentos os itens encontrados nos supermercados”. 

Consumo humano

Atualmente, qualquer planta que tenha o seu potencial negligenciada pode ter uma possibilidade infinita para o consumo humano, explica o engenheiro. Delas você pode utilizar as flores, frutos, caules, raízes, tubérculos e, principalmente, as folhas. Para incorporá-las no dia a dia, o primeiro passo, segundo Marcelo, é consumir o mínimo de produtos industrializados, mesmo aqueles produtos frescos adquiridos em supermercados. 
“A gente tem uma quantidade de feiras interessantes em Prudente. Então, valoriza as feiras e conheça os produtores rurais”, acrescenta. Na casa de Marcelo, as plantas alimentícias não convencionais são sempre bem-vindas. Ele e a esposa passaram pela fase de introdução alimentar da filha de um ano e quatro meses que, inclusive, se tornou adepta às panc e já sabe identificar algumas espécies.  
A nutricionista Patrícia Zacharias acrescenta que as plantas alimentícias não convencionais são ricas em fibras, antioxidantes e proteínas, inclusive, com concentrações de nutrientes superiores a outras culturas utilizadas no dia a dia. As panc, segundo ela, podem ser consumidas in natura, assim como uma alface, ou cozidas – tudo varia de espécie para espécie. “São alimentos alternativos e nutritivos, e que ajudam no combate à desnutrição dependendo do tipo de alimento. Além disso, têm certas espécies que atuam nas inflamações do estômago, saúde óssea, controle da pressão arterial, ou seja, cada uma tem a sua indicação na alimentação. Elas são indicadas para melhorarem o valor nutricional da nossa alimentação”, afirma.

Receita de salada panc

O produtor agroecológico e engenheiro ambiental, Marcelo Lopes, compartilhou uma receita de salada panc. Entre as folhas você pode selecionar uma porção de cariru, beldroega, vinagreira, jambu, erva-da-graça, ora-pro-nóbis, buva, mastruz, hortelã-pimenta e umbuzeiro. Na classificação das flores você pode acrescentar lírio-do-brejo, tumbergia, mari-mari, flamboyanzinho, beldroega, cariru, ora-pro-nóbis, flamboyant. Para consumi-las é só lavar e cortar a gosto. Sugestão de molho: 4 colheres de vinagre, 2 colheres de molho mostarda, ½ de cebola e mel.

Fotos: Weverson Nascimento 

produtor agroecológico de Presidente Prudente defende consumo de panc

Panc são ricas em fibras, antioxidantes e proteínas

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