Pseudoterapia para saudáveis

OPINIÃO - Jair Rodrigues Garcia Júnior

Data 04/02/2024
Horário 04:19

Ganhar massa e definição muscular, manter a libido nas alturas e outras metas estéticas levaram ao surgimento de um novo mercado para os profissionais de saúde. Foram incluídas as “terapias para pessoas saudáveis”, que é uma contradição. As pseudoterapias que não têm qualquer embasamento ou evidência científica que suportam sua eficácia e segurança. Nesta linha estão está os implantes hormonais, o soro de vitaminas e aminoácidos, uso diário e ad aeternum de suplementos diversos e de medicamentos off-label (usado para outro fim, que não a doença para a qual foi produzido).
Muitos dos pacientes sequer sabem que os implantes hormonais (testosterona e gestrinona), anabolizantes, inibidores de apetite e termogênicos farmacológicos não são aprovados pela Anvisa para fins estéticos. A composição é muito variada, não há bula com composição e quantidade, efeitos previstos e colaterais, meia-vida (tempo de ação) ou referência a estudos científicos clínicos. Não há estudos.
Não existe dose segura para o uso de hormônios e medicamentos para fins estéticos. Em nenhum caso pode haver garantia de que acompanhamento de profissional evita os efeitos colaterais. Na melhor hipótese, o acompanhamento pode detectar os efeitos colaterais para cessar o tratamento ou usar algum medicamento como paliativo. De fato, não protege o paciente de efeitos que podem ser de leves até graves e irreversíveis. 
Nenhum paciente pode prever quantos especialistas deverá procurar para tratar dos efeitos colaterais que surgirem, e surgirão. Talvez dermatologista para os problemas de pele, endocrinologista para desequilíbrios hormonais, gastroenterologista para problemas do fígado, nefrologista para problemas dos rins, cardiologista para problemas cardiocirculatórios etc.
Em dezembro de 2023 importantes entidades médicas (abaixo) enviaram carta aberta à Anvisa sobre a preocupação com o uso indiscriminado de hormônios, pedindo providência quanto à prescrição e comercialização. Foram as sociedades e associações de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), Diabete (SBD), Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Urologia (SBU) e Geriatria e Gerontologia (SBGG).
O aspecto da segurança de um medicamento ou terapia está em primeiro lugar e envolve também questões éticas. Sem comprovação científica disponível, qualquer dessas terapias segue como duvidosa-terapia, insegura-terapia, incerta-terapia, temerária-terapia, perigosa-terapia. 

 


 

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