Há dias em que parece que o chão sob os nossos pés não está mais lá. A gente acorda e carrega na cabeça um monte de planos, sonhos, pequenos roteiros do que deveria acontecer — e, de repente, alguma coisa falha. Um projeto que a gente já imaginava como certo escapa por entre os dedos, um edital que parecia garantido desmorona por um detalhe, alguém que a gente ama toma rumos que a gente não pode controlar.
Tudo balança.
E, quando balança, a gente se sente pequeno. Frágil. Vulnerável demais para o tamanho do mundo. Porque nessas horas vem à tona um medo antigo: o medo de perder. Perder o que a gente construiu, perder a pessoa que a gente escolheu, perder a si mesmo nesse caminho que não é nada linear.
Eu confesso que esses dias eu senti exatamente isso.
Dei por mim pensando se estava realmente pronto para a vida que tenho tentado levar. Se ainda daria tempo de me colocar à altura dos meus sonhos, dos meus amores. Se ainda sou prioridade para aqueles que são prioridade pra mim. Me perguntei se minhas escolhas não eram lentas demais, bagunçadas demais, frágeis demais para caber na vida madura, acelerada, certeira dos outros.
Mas o que eu sinto não é só meu.
Esses sentimentos pairam também sobre o coletivo. Pairam sobre a cultura, sobre a política, sobre a cidade. Porque o que é um projeto que desmorona, senão um reflexo de políticas frágeis demais, que ainda não sabem lidar com a juventude e sua força criativa?
Esses dias também me lembrei das denúncias que correm sobre o Conselho Municipal de Cultura, que já foi declarado irregular pelo Ministério Público por descumprir a própria lei municipal. E fiquei pensando em como é doloroso ver que as estruturas que deveriam nos apoiar também desabam.
E talvez seja isso que doa tanto: ver que tudo balança — por dentro e por fora.
Mas eu ainda acredito que mesmo quando tudo balança, a gente não cai de verdade.
Mesmo quando o vento é forte, a gente tem raízes.
Mesmo quando parece que tudo vai desabar, há um pouco de sol lá no horizonte, esperando a gente retomar o passo.
Mesmo quando o outro está distante, há um caminho que pode ser refeito, se houver vontade de caminhar junto.
A vida não nos pede para sermos firmes o tempo todo. Ela nos pede para sermos sinceros: com o que sentimos, com quem amamos, com o que defendemos.
Que a gente tenha coragem para admitir que sente medo. Que a gente tenha delicadeza para cuidar de si e do outro, mesmo quando a tempestade parece interminável.
E que a gente também tenha ousadia para exigir mudanças nas estruturas que balançam por descaso, para cobrar democracia verdadeira, para ocupar espaços e construir novos conselhos, novas políticas, novas formas de ser coletivo.
Porque, no fim das contas, o que realmente importa é não soltar a mão — nem a nossa própria, nem a do outro, nem a da comunidade.
E, se por algum motivo a gente soltar, que a gente tenha coragem para procurar de novo.
Porque sempre dá pra recomeçar. Mesmo quando tudo balança.