Quarentena: Domésticas e diaristas relatam período

Entre os relatos de três profissionais do setor, de Presidente Prudente, “ver um filho passar necessidade dói na alma” simboliza o sentimento de milhares de mães por todo o Brasil na mesma situação

PRUDENTE - OSLAINE SILVA

Data 14/06/2020
Horário 07:15
Weverson Nascimento: Aline trabalha em duas casas, três dias por semana
Weverson Nascimento: Aline trabalha em duas casas, três dias por semana

A pandemia causada pelo novo coronavírus impactou a vida de pessoas de todas as classes sociais, em todos os setores. E chega a doer o coração quando alguns relatos são expostos. Nesta edição, por exemplo, há a situação de uma profissão que já não é nada fácil em dias comuns. Imagina agora onde o distanciamento social se faz necessário para evitar a contaminação da Covid-19. Estamos falando de mulheres que são empregadas domésticas ou diaristas. E uma das três que a reportagem ouviu representa milhares de mães espalhadas por todo o Brasil, que sentem na alma a dor de ver um filho passar necessidade. Ela é Francisca Maria da Conceição, 34 anos, moradora do Parque Alexandrina, em Presidente Prudente, separada e mãe de dois filhos, Yago de 14 anos e Yasmin de 9. Assim que foi decretada a quarentena ela perdeu o seu emprego de doméstica, pois segundo a patroa que é comerciante e também teve que fechar o seu estabelecimento, infelizmente não teria condições de pagar o seu salário.

“Ela disse que assim que voltasse ao normal, me chamaria de volta. Graças a Deus o pai dos meus filhos paga pensão e conto com ajuda de pessoas boas em minha vida, como o padrinho da minha filha! Faço alguns bicos para pagar o aluguel [R$ 300], pagar contas e comprar algumas coisas para as crianças, porque água e luz pago com a pensão delas. Às vezes eles pedem alguma coisa e eu falo para esperarem as coisas melhorarem. É o que posso fazer. Ele quer um celular. Ela, um tablet”, conta emocionada a mãe que ainda não teve seu seguro desemprego liberado.

A doméstica diz que é tanta tristeza e angústia. Mas, aí penso em meus filhos. Eles só têm a mim. Quando ouvi sobre a morte do menino Miguel que por sua mãe não ter com quem deixa-lo para ir trabalhar o levou, sinto uma dor no coração porque eu já sofri em não ter com quem deixar os meus. Revolta, dá raiva, ódio”, sofre a mãe Francisca.

 

DIARISTAS DE VOLTA A

QUASE NORMALIDADE

Graças a Deus, para as diaristas Aline Cristina da Silva Antônio, 35 anos, e Patrícia Lopes Ferreira, 45 anos, esse período foi menos preocupante, pois ambas foram dispensadas de suas faxinas por algumas semanas, mas já estão de volta tomando os devidos cuidados.

Aline trabalha em duas casas, três dias por semana. Uma das patroas explicou na ocasião da dispensa que só estava tomando a atitude por ter mais de 60 anos e se preocupar com a saúde de ambas. E que assim que o cenário melhorasse ela retornaria. “É complicado, porque se não trabalho não ganho e está sendo muito difícil. Ao invés de pegar ônibus estou indo de Uber. Mas, para ficar mais em conta tive que sair da minha casa, no Morada do Sol, e estou ficando na casa da minha mãe. Vou de máscara, passo o álcool em gel e chegando no serviço troco logo de roupa, lavo bem as mãos e para a casa ficar mais higienizada estou usando bastante água sanitária”, explica Aline.

Patrícia conta que no começo teve semana de não trabalhar nem um dia. Algumas das patroas disseram que por ora, como todos ficariam em casa, não precisariam dos seus serviços. “Embora nenhuma delas tenham feito nenhuma exigência, uso máscara, álcool em gel e lavo mais as mãos e braços com água e sabão assim que chego. Toda essa situação me deu muito medo não só economicamente, mas principalmente de meus netos ou filhas ficarem doentes”, destaca a mãe e avó protetora

 

Fotos: Weverson Nascimento

Sob suas asas: os “dois filhos de Francisca” são protegidos pelo amor de mãe neste momento tão triste!

 

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