A busca por pescados na Quaresma movimenta os supermercados e estabelecimentos especializados, pois é quando muitos consumidores deixam de comer carnes vermelhas. Neste ano, inclusive, os comerciantes prudentinos esperam um aumento nas vendas se comparadas com o início de fevereiro, uma vez que o consumo aumenta nas quartas e sextas para aqueles que guardam a tradição. O cenário próspero também se deu diante do desempenho positivo da piscicultura brasileira em 2020, quando obteve um crescimento de 5,93%, conforme estudo da Associação Brasileira da Piscicultura – PeixeBR. Com isso, a produção de peixes de cultivo saltou de 758.006 toneladas em 2019, para 802.390 toneladas no ano passado.
Quem segue à risca a tradição e os ritos da Quaresma, seja em oração, jejum e, principalmente, na substituição da carne vermelha, pode conferir uma variedade de produtos na Navio Rotisseria e Peixaria. Segundo o gerente comercial do estabelecimento especializado, Maciel Siqueira, acredita-se que, além da questão religiosa, é também uma questão cultural consumir o peixe durante o período da Quaresma e na Semana Santa, independentemente da religião. “Na Quaresma a gente percebe um aumento de 30% nas vendas, porque há um aumento no consumo do peixe nas quartas e sextas para aqueles que guardam a tradição. Já na Semana Santa, período que antecede a Páscoa, também por conta das tradições religiosas e culturais, as vendas passam de 100%”, explica.
Os peixes mais procurados, segundo o gerente, são aqueles de fácil preparo, sem espinhos e/ou pele. Além disso, a peixaria também oferta alternativas rápidas como peixes já temperados. No entanto, apesar de contar com vendas expressivas no período quaresmal, o comércio nas datas festivas de fim de ano tem se mostrado ainda mais promissor. “Temos um grande volume de vendas no Natal e ano-novo, até mais que na Quaresma”, explica o gerente comercial. Isso acontece porque alguns consumidores estão substituindo as carnes vermelhas por assados e pescados, o que inclui o bacalhau e o famoso camarão.
No Supermercado Avenida, o gerente João Luis Nicolosi Gasparino explica que as vendas neste período chegam a triplicar, uma vez que os consumidores consomem mais peixes em decorrência da Quaresma. O preço atual dos pescados, segundo ele, não sofreu ajustes nestes dias de penitência e conversão, mas acompanhou a crescente do mercado brasileiro dos últimos semestres. Por lá, a venda do bacalhau é maior na Quaresma do que durante o ano todo, mas as merluzas acabam ganhando a mesa dos consumidores neste período.
Mas, para entender este mercado próspero é necessário voltar ao ano passado. Em um período marcado pelas incertezas e desafios, a piscicultura brasileira teve desempenho positivo em 2020, com crescimento de 5,93%, conforme a Associação Brasileira da Piscicultura - PeixeBR. Com isso, a produção de peixes de cultivo saltou de 758.006 toneladas em 2019, para 802.390 toneladas no ano passado.
Com o cenário da pandemia mais ajustado, o segundo semestre de 2020 foi o melhor da piscicultura nos últimos anos. O consumo interno cresceu com consistência e o setor respondeu com maior oferta. Como resultado, os preços aos produtores ficaram em níveis consistentes e os elos da cadeia puderam não apenas recuperar os prejuízos da primeira parte do ano, mas avançar e “fechar o balanço no azul”, aponta o estudo.
O Estado de São Paulo, por sua vez, também registrou aumento na demanda de peixes de cultivo, o que proporcionou melhora nos preços aos produtores, de acordo com a Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento. O aumento da demanda, principalmente de filé de tilápia, durante a pandemia, incrementou novos investimentos na atividade paulista. Em números, São Paulo cresceu 6,9% no ano passado, alcançando 74,6 mil toneladas. Com esse desempenho, o Estado consolidou-se como o 2º maior produtor do país.
Recentemente, o IPS (Índice de Preços dos Supermercados), calculado pela Apas/Fipe (Associação Paulista de Supermercados/Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), apresentou também que as carnes bovinas e suínas registraram altas de 16,3% e 31,5%, respectivamente. Tal impacto foi ocasionado pelo crescimento dos custos de produção, o que inclui a alta nos insumos de ração animal como milho e soja, bem como a demanda internacional, uma vez as exportações têm sido impulsionadas pelo câmbio mais desvalorizado do real frente ao dólar. Desta forma, com o aumento dos cortes mais conhecidos de carne vermelha, os consumidores têm buscado por alternativas com valores mais atrativos, como os pescados.
A nutricionista Patrícia Zacharias destaca alguns pontos na hora dos consumidores escolherem o melhor peixe. “A princípio, a pele do peixe deve estar brilhante e a carne firme. No caso dos peixes inteiros, eles devem ter olhos bem brilhantes e as escamas devem estar bem aferidas à pele”, explica. O consumo, segundo ela, deve ser de pelo menos duas vezes na semana, podendo ser oriundo de água doce ou salgada, e rico em ômega 3. “O consumo de peixe ajuda na proteção do cérebro contra o envelhecimento natural do corpo, auxilia no controle da depressão nas doenças cardiovasculares, na saúde dos olhos e da pele. Mas, devemos evitar fritá-los. Cozidos, grelhados, assados ou ensopados são melhores para a saúde”, orienta.
NÚMEROS
SÃO PAULO: Produção da piscicultura
74.600 t
2020
69.800 t
2019
73.200 t
2018
SÃO PAULO: Espécies mais produzidas em 2020
70.500 t
Tilápia
3.500 t
Nativos
600 t
Outros
Fonte: PeixeBR