Em meio aos inúmeros desafios enfrentados pela saúde pública brasileira, a notícia que chega de Brasília nesta quarta-feira merece ser celebrada — e, sobretudo, refletida. Pelo terceiro ano consecutivo, Presidente Prudente foi certificada como livre da transmissão vertical do HIV, uma conquista rara, complexa e que revela o impacto de políticas públicas articuladas, persistentes e, acima de tudo, humanas. Somado a isso, o município também recebeu o selo bronze de boas práticas rumo à eliminação da transmissão vertical da hepatite B, consolidando-se como referência nacional na prevenção dessas enfermidades.
Os números apresentados durante a cerimônia não deixam margem para dúvidas: apenas 59 municípios e sete Estados brasileiros figuram na lista de reconhecidos neste ano. Em um país continental, marcado por desigualdades regionais profundas e por uma crônica insuficiência de recursos na esfera da saúde, estar entre esses poucos é muito mais que uma distinção simbólica — é um marco que evidencia organização, competência técnica e compromisso com as vidas que dependem silenciosamente da eficiência do sistema.
O coordenador do programa IST/Aids (infecção sexualmente transmissível/síndrome da imunodeficiência adquirida) de Presidente Prudente, Jefferson Saviolo, presente no evento, reforçou o tamanho da conquista. E tem razão. A interrupção da transmissão vertical — aquela que ocorre da gestante para o bebê durante a gestação, o parto ou a amamentação — é um dos maiores desafios da saúde pública global. Exige diagnóstico precoce, acompanhamento contínuo, acesso a medicamentos, integração entre serviços e, principalmente, vigilância obstinada para que nenhuma mulher e nenhuma criança fiquem à margem.
O reconhecimento federal, portanto, não é um fim, mas um indicador de que o caminho trilhado está no rumo certo. Também serve como lembrete de que políticas bem estruturadas e sustentadas ao longo do tempo produzem resultados concretos, mesmo diante das adversidades. Em tempos de frequentes instabilidades administrativas e cortes orçamentários, a conquista de Prudente ressalta a importância da continuidade e do planejamento — elementos indispensáveis quando o objetivo é salvar vidas.
Resta agora transformar essa certificação em combustível para avançar. Se o selo bronze na eliminação da transmissão vertical da hepatite B demonstra que há progresso, ele também aponta que ainda há espaço para aprimoramentos. E é exatamente assim que uma cidade se consolida como referência: reconhecendo seus acertos, mas sem perder de vista os desafios que permanecem.
Presidente Prudente dá um exemplo ao país. Que o feito inspire outros municípios e, mais do que isso, fortaleça a convicção de que investir em saúde pública não é custo — é prioridade.