Na tarde ontem, representantes dos poderes Judiciário, Legislativo e Executivo, e representantes da sociedade civil e da Saúde em Presidente Prudente, participaram de uma reunião convocada pela unidade local do Ciesp/Fiesp (Centro e Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), para tratar sobre a atual situação do sistema de saúde da capital do oeste paulista, em razão da crise sanitária causada pelo novo coronavírus. Entre os temas abordados está a abertura de 20 novos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) para desafogar os hospitais locais, a testagem rápida de pacientes com suspeita da doença, o incentivo à contrapartida de entidades privadas e a intensificação das medidas sanitárias a fim de que se evitem aglomerações.
O diretor regional do Ciesp/Fiesp em Prudente, Wadir Olivetti Júnior, explica que convocou a reunião com o intuito de viabilizar, com máxima urgência, o mínimo de 20 leitos de UTI em face à contaminação crescente da população prudentina, principalmente do público mais carente, uma vez que este necessita de internações e as unidades de saúde estão lotadas. “O município precisa com urgência desses leitos de UTI. Também estamos ‘solicitando’ que o Executivo possa fiscalizar mais os setores onde se concentram um maior número de pessoas, ou seja, espaços onde o vírus pode se proliferar”, explica. Outro ponto destacado na reunião diz respeito à necessidade de “provocar” o setor privado de planos de saúde para que também aumente o número de UTIs, a fim de atender os seus associados.
No decorrer da reunião, o deputado estadual Mauro Bragato (PSDB) apresentou uma medida que, diante da atual situação do Estado frente à pandemia, poderia ser viável para o município de Presidente Prudente. “A princípio, eles reivindicavam por leitos de UTI em um hospital de campanha. No entanto, vai demorar muito tempo e esforços que não existem. Então, eu acabei propondo fazer um empenho junto à Santa Casa de Misericórdia de Presidente Prudente e o HR [Hospital Regional Doutor Domingos Leonardo Cerávolo] para que cedam espaços para isso. Eles têm estrutura, histórico, dentre outras coisas”, detalha.
O deputado adianta que o financiamento dos leitos é possível, mas o Estado “não pode gastar em equipamentos”, e, sim, onde há possibilidade de crescer o investimento. Bragato detalha que já adiantou previamente o assunto discutido em reunião ao secretário adjunto de Saúde do Estado, Jean Carlo Gorinchteyn, ao secretário de Desenvolvimento Regional, Marco Vinholi, e diretamente ao governo paulista.
O promotor de Justiça, Marcelo Creste, explica que as medidas apresentadas em reunião são viáveis, uma vez que no município há uma demanda por leito. “Durante a reunião, foram consultados vários dirigentes de hospitais e todos relataram a mesma situação: trata-se de uma situação difícil, não tem pessoal e equipamento. Todas as bases aqui consultadas apontaram uma dificuldade técnica, estrutural e de pessoal para se montar leitos de uma hora para outra”, explica.
Portanto, reforça que é necessário que as pessoas entendam que não se monta leitos de UTI de um dia para o outro e que não é um recurso inesgotável. “A sociedade civil tem que ver que a pandemia está descontrolada no território. Se não controlar a transmissão na comunidade, não haverá leitos que aguentem. Vai sempre precisar de mais. A pandemia está descontrolada e a sociedade vive hoje em Prudente como se ela não existisse”, afirma.
Creste acrescenta que o governo nunca negou recursos financeiros para montagem de leitos de UTI e recorda que, final do ano passado, quando houve uma manifestação para aumentar leitos na Santa Casa de Prudente e no Hospital Regional, a resposta à Promotoria foi a de que seria “inviável tecnicamente”, mas o Estado, após negociações, montou 10 leitos de Unidade de Terapia Intensiva na Santa Casa de Misericórdia de Presidente Venceslau.
O juiz de Direito, José Wagner Parrão Molina, por sua vez, entende como oportuna a manifestação do Ciesp/Fiesp, mas adianta que o atendimento dos 20 leitos que serão solicitados junto ao governo estadual, por si só, não resolverá o problema. “É necessário uma maior conscientização da sociedade como um todo e dos poderes constituídos – Judiciário, Legislativo e Executivo – para coibir as pessoas de abusos que refletem, consequentemente, no aumento do número de casos”, frisa.
Ele reforça que, no início da pandemia, a região tinha um número de leitos de UTI bem menor do que o atual, e que mesmo com o aumento não se consegue atender a todos. “Pode aumentar mais 20 leitos, mas se não houver uma fiscalização e adesão da sociedade em colaborar, dificilmente será resolvido”.
Outro ponto pertinente discutido em reunião, segundo o juiz, é quanto à colaboração da rede privada em prol de seus associados, uma vez que eles procuram por atendimento junto ao SUS (Sistema Único de Saúde). Por isso, adianta que uma contrapartida do setor privado é necessária, seja no aspecto de viabilizar mais leitos de UTI, bem com o de educar as pessoas para que sigam à risca as medidas sanitárias para que, consequentemente, não ocorra uma explosão de casos em Prudente.
Na reunião estavam presentes o presidente da Câmara Municipal de Presidente Prudente, Demerson Dias (PSB), e o secretário municipal de Saúde, Delton Eustasio Ferraz. Ambos se colocaram à disposição frente às medidas adotadas para o enfretamento da pandemia.
Após o final da reunião, ficou decidida a expedição de um ofício com as medidas apresentadas. O documento será assinado por todos os representantes e encaminhado ao governo do Estado ainda nesta semana.