Salvem os maridos na quarentena!

OPINIÃO - Roberto Mancuzo

Data 16/06/2020
Horário 06:00

Esposas, se decidirem ler esta crônica será por conta e risco. Aliás, eu nem sei se ela vai ser publicada depois que a editora-chefe do jornal passar a revisão no texto. Torcemos.

Mas a conversa hoje é para defender os maridos. Essa categoria social que de uma hora para outra trocou a planilha de faturamento pela necessidade de entender o que significa o “X-14 Power Plus” no rótulo do desinfetante.

Mano, tá osso, não? O marido foi ressignificado nesta quarentena, saiu do topo da cadeia alimentar doméstica e virou um bichinho assustado. Maridos vivem os jogos mortais na pandemia.

O jogo com as crianças. A gente só sabia jogar tabuleiro tipo ludo, dama, truco e às vezes um banco imobiliário. A molecada quer jogar game com a gente e entender aquele controle do Xbox exige treinamento na Nasa. É só pau. Quando acaba o game, vem o Lego. Lego... Senhores que fazem o Lego, uma pergunta: “Por que tão pequeno? Por quê?” Meus olhos ficam apavorados quando as crianças chegam com a caixa. E daí você convence as pulguinhas a fazer algo mais braçal e elas topam. Show. Você vai ao banheiro e quando volta, a sala virou um forte Apache com cadeiras, sofá virado, lençol por cima e a cachorra está de capacete, de guarda. Um dia para desarrumar e o mais novo passou lá atrás com o ferro de passar na mão. Corre.

O jogo da limpeza. Um dia você percebeu que a pia da cozinha e o banheiro não são autolimpantes. E alguma coisa no olhar da sua esposa dizia que você ia entrar no jogo logo, logo. E assim foi. Que pandemia! Para quê tantos produtos de limpeza? Na minha época, jogava Cândida em tudo e pronto. Porque produto bom era assim: se ardesse os olhos quase até cegar, era bom. Mas agora, mano, tem várias cores, lugares para usar, quantidade certa, rótulos! A gente não lê nem bula de remédio, vai ler rótulo de desinfetante. E o pó? Uma pergunta fundamental para as mulheres: “De onde vem o pó?” Porque não é possível. Duas horas de aspirador e quando você volta para sala, lá está ele. O pó é invencível.

O jogo com a esposa. Essa luta é de gladiadores. Na Malásia, o governo chegou a colocar no ar, pelas redes sociais, uma campanha que pedia às mulheres que “não incomodassem os seus maridos durante a quarentena”. Depois tirou porque percebeu que, na verdade, o problema era o contrário. As esposas não aguentam mais o cabra de moleton velho, short de futebol, barba hipster vazando para todos os lados, sentado na frente da TV assistindo a final do Campeonato Paulista de 2015. E gritando com os jogadores.

Ou então, de tanto assistir “Ame-a ou Deixe-a Vancouver”, “Piscinas Extraordinárias” e “Reforme na baixa e fature na alta”, o maridão virou um expert e aí tome projeto de reforma para varanda, cozinha e jardim. E no fundo, ele só consegue mesmo pendurar uma samambaia no quintal. É muita raça para nos aguentar. Eu dou o braço a torcer. E tem mulher que se arrependeu amargamente de pedir para o marido trocar a resistência do chuveiro. “Já que está em casa, né?”. Foram três dias sem água quente até que o zelador entrasse e fizesse o serviço. “Precisava chamar o seu Jaime?”. E tome DR. O cara já estava em isolamento e foi mais isolado ainda. Lá para o quartinho dos fundos. “Atrapalha menos”.

O jogo com o home office. No começo foi até legal, a gente gostou do “home”, mas quando o “office” veio mesmo, ferrou. Porque, cara, no escritório tudo funciona. Lá, tudo está no lugar, o grampeador sempre está lá, não está na boca do cachorro e nem no berço do bebê. O notebook também não fica adaptado no quarto do filho mais novo. E aí, aquela reunião infernal no Zoom começa, você de camisa social, bermudão e chinelo e o filho passa atrás, a mulher chama, o vizinho grita, a internet cai e o estresse aumenta no nível Bernardinho na beira da quadra. Não tem como pontuar.

Game over.

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