Para falar sobre gestos extraordinários, vidas com sentido, respeito e atenção ao outro retomo novamente (e por isso peço escusas), o exemplo de Teresa de Lisieux (França, século 19). Núcleo de sua espiritualidade é o ser como criança, confiar profundamente em Deus, ou o “pequeno caminho” que conduz de modo simples ao Céu. Algo tão belo e virtuoso que muitos ficam sem saber ao certo como vivê-la. Ao olhar para a vida dessa jovenzinha veremos que, embora seja extraordinariamente encantadora, ao longo de sua vida, não fez nada de literalmente extraordinário. Teve uma vida simples, mortificada e silenciosa, diferente de outros santos cuja vida é marcada por grandes milagres, pregações arrebatadoras, bilocações e prodígios. Na pequena Teresa há busca de escondimento e anonimato.
Vivemos numa época de espetáculo; parece existir somente o mostrado nas redes sociais; um simples almoço ou um passeio precisam de publicação e curtidas. Divulgar é preciso. Fazer os outros partícipes da nossa “conquista” é item básico para a “felicidade”; vai entre aspas, pois o exibicionismo não nos faz necessariamente felizes, podendo até ter o seu efeito contrário ao despertar no outro sentimentos pouco nobres, como ciúme ou distanciamento. Santa Teresinha não executava coisas extraordinárias; no Carmelo, fazia tudo com amor: mesmo e, sobretudo no seu sofrimento. Procurava agradar em tudo ao bom Deus, sabia que “ser o amor” resumia todas as vocações e lhe dava a forma mais nobre de serviço. Cada pequena coisa era feita com a potência da eternidade, com a explosão do amor – que tudo renova e transforma.
Numa frase, a santidade para Teresinha é viver o ordinário de maneira extraordinária. Nos serviços menores de casa, na delicadeza dos pequenos gestos, colocar amor em cada pequena coisa: num sorriso, no atender ao telefone, no ouvir e aconselhar uma pessoa, sofrer em silêncio, não ser autorreferente, ter boas palavras... sempre com amor. Ao final da conversa um amigo me surpreendeu: “obrigado pelo seu tempo disponível para mim”. Nesses dias, dar um pouco de tempo para estar com e escutar alguém é um significativo investimento, sobretudo por ser gratuito. Para sermos lembrados precisamos fazer tudo com amor. O caminho da simplicidade e humildade só pode nos levar ao êxito de uma vida com sentido. Somente fora do amor é que não há salvação.
Bom propósito de vida é: “Para ser grande, sê inteiro: nada/ Teu exagera ou exclui./ Sê todo em cada coisa. Põe quanto és/ No mínimo que fazes./ Assim em cada lago a lua toda/ Brilha, porque alta vive.” (Ricardo Reis)
Seja bom o seu dia e abençoada a sua vida. Pax!!!
