Esse é um questionamento que está em alta entre as pessoas, nas redes sociais e nos noticiários. Parece que nunca se falou tanto sobre saúde mental como agora e ficamos com a impressão de que estamos mais doentes mentalmente hoje do que em outras épocas. Ansiedade, depressão, burnout, transtornos de atenção, crises de pânico, autismo. Termos antes restritos ao vocabulário médico tornaram-se cotidianos. Mas será que, de fato, estamos mais doentes? Ou será que estamos apenas mais conscientes da nossa dor?
Durante décadas – talvez séculos – a saúde mental foi um território negligenciado, tratado com silêncio ou vergonha. Sofrer em silêncio era considerado sinal de força; buscar ajuda, uma fraqueza. Nesse contexto, muitos distúrbios passaram despercebidos, mal diagnosticados ou simplesmente ignorados. O que mudou não foi apenas o número de diagnósticos, mas a nossa capacidade de reconhecer e nomear aquilo que sentimos.
Ao mesmo tempo, é inegável que o mundo contemporâneo impõe ritmos e pressões inéditas. Vivemos conectados o tempo todo, expostos a um fluxo constante de informações, exigências e comparações. As redes sociais criam realidades paralelas, onde todos parecem felizes, bem-sucedidos e produtivos. Isso cria um abismo entre o que somos e o que achamos que deveríamos ser. A cobrança interna cresce, e a frustração se instala.
Além disso, o isolamento social crescente tem afetado diretamente nosso equilíbrio emocional. Cada vez mais pessoas trocam o contato presencial pelo conforto de suas casas — um refúgio que, embora pareça seguro, pode facilmente se transformar em solidão. Essa falta de convivência reduz nossas oportunidades de desenvolver habilidades sociais e de acessar reforços emocionais importantes, como apoio, empatia e pertencimento. O impacto não é apenas individual — é também um reflexo de um adoecimento coletivo.
Mas há também um lado positivo nessa nova percepção. Falar sobre saúde mental deixou de ser tabu. Cresce o número de pessoas que buscam terapia, que compartilham experiências, que se apoiam mutuamente. Isso significa que estamos mais conscientes e em mais contato com nossa vulnerabilidade. Estar doente e reconhecer isso é, paradoxalmente, um sinal de saúde.
Portanto, talvez a pergunta “Será que estamos mais frágeis?” deva ser reformulada. Talvez estejamos mais atentos. Talvez estejamos, finalmente, permitindo que a dor venha à tona, para que possa ser acolhida e tratada. E isso, por mais desconfortável que pareça, é um passo importante rumo à cura.