Sexualidade deve ser abordada desde a infância

Conforme especialistas, falar sobre sexo deve ser algo natural na relação familiar, para que não gere constrangimento na juventude

Quem nunca se sentiu envergonhado em falar com os pais sobre sexualidade? Apesar da modernidade dos tempos, este é um assunto que ainda constrange quando é abordado. O tabu estabelecido neste tema ainda permanece entre as famílias, fazendo com que se crie um muro entre pais e filhos quando o assunto é sexo. Especialistas acreditam que a sexualidade deve ser abordada desde a infância, de acordo com a curiosidade das crianças, para que, quando se encontrarem no início da juventude, já possuam confiança em falar sobre isso com os pais.

“A maneira mais segura de atravessar a sexualidade é pelo carinho e suporte dos pais”, afirma a psicóloga Joselene Alvim. Ela fala que esse tipo de orientação deve surgiu de dentro da família, pois devido ao fácil acesso da mídia hoje em dia, as informações podem vir de maneira distorcida. “É um caminho novo que eles vão descobrindo, e se não houver uma mediação dos pais, podem cair em perigos”, acrescenta.

Diálogo aberto

A psicóloga Ieda Benedetti fala que este assunto sempre deve ser falado de forma natural, de maneira mais infantil com as crianças e de forma aprimorada com os jovens. “Não é possível introduzir um assunto abruptamente, que antes fora proibido. As curiosidades e interesses das crianças consequentemente vão criando um clima propício de diálogo, para que quando tudo isso vier à tona, não seja um assunto que vá causar constrangimento”, afirma.

Joselene expõe que este é um tema que o adolescente deve falar à vontade, parar tirar a visão de tabu sobre a sexualidade. “Os pais podem pegar situações vistas em filmes e novelas e comentar. Ou abordar o assunto com mais profundidade quando começam a namorar, como forma de esclarecimento sobre cuidados. Assim, eles poderão confiar e não se sentir constrangidos diante das orientações”, orienta.

Vida sexual precoce

De acordo com as especialistas, não existe a idade correta para dar início às relações sexuais, pois depende da maturidade e segurança que existem em cada pessoa.  Joselene destaca que o amadurecimento emocional é a peça-chave que define o começo desta nova fase. “A pessoa deve estar preparada, e quanto mais os pais conversarem com os filhos sobre isso, mais esse preparo será feito, colaborando para o crescimento da autoconfiança emocional e psicológica, para um início consciente da vida sexual”, afirma.

No entanto, as especialistas afirmam que, se isso não ocorre, uma vida sexual precoce pode levar a alguns riscos. “Algo que deve ser prazeroso e saudável, quando é feito de maneira precoce, extremamente reprimido ou iniciado com violência, pode acabar se tornando uma patologia”, declara Ieda. Joselene também destaca que uma vida sexual precoce pode acarretar casos como gravidez indesejada ou doenças sexualmente transmissíveis. “Muitos têm esse início muito cedo, já pela falta de informação, e isso acaba levando a esses problemas”, acrescenta.

Na escola

A educação sexual tem sido um tema muito discutido, principalmente diante do cenário político atual. A psicóloga Thaís Blumle Silva Pardo de Barros fala que o assunto deve ser abordado em sala de aula de forma humanitária, igualitária, preventiva e livre. “O ideal não é mostrar o que é certo ou errado e nem com embasamento religioso, mas sim fazer a reflexão, para tirar a ideia de que sexualidade é apenas sexo”, afirma. Ela declara que os jovens precisam ter acesso a essas informações, “para que saibam identificar os tipos de carinho e amor, a fim de que reconheçam o que para si é considerado errado e consigam tomar as providências cabíveis, como uma denúncia”.

“O mais importante é abrir espaço para ouvi-los e tirar dúvidas, pois se eles não encontram respostas em casa ou na escola, acabam buscando nas ruas, da onde, às vezes, vêm de forma distorcida”, acrescenta Thaís. Ela destaca que a escola deve orientar sobre questões de prevenções de doenças sexualmente transmissíveis, gravidez indesejável, temas como assédio e abuso, bem como a importância de respeitar e conhecer seu próprio corpo. “A sexualidade não pode ser temida, mas sim verbalizada da forma correta, trabalhando juntamente com a igualdade de gênero, a fim de diminuir a cultura machista da qual vivemos”, pontua.

Em nota, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo assegura que os conteúdos corpo humano, aparelho reprodutor e doenças relacionadas sejam abordados em todas as escolas estaduais. “De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, esta temática é trabalhada a partir dos anos finais do ensino fundamental e também no ensino médio, nas disciplinas de ciências e biologia”. Questionada sobre a mesma demanda, a Seduc (Secretaria Municipal de Educação) informa que o tema não é abordado de forma direta nas escolas municipais, pois atendem um público com idades de zero a nove anos. 

PRINCIPAIS ERROS NO DIÁLOGO SOBRE SEXUALIDADE

- Falar sobre assuntos de sexualidade de maneira negativa;

- Colocar teores moralistas;

- Trabalhar o diálogo com repressão;

- Fazer julgamentos;

- Transferir para os filhos vivências negativas da própria sexualidade.

PERFIL

                                                                           José Reis

Nome completo: Larissa Nascimento Ribas

Idade: 21 anos

Curso: Letras

Você trata a sexualidade como tabu ou costuma falar abertamente sobre o assunto?

Eu não acho que seja um tabu hoje em dia. Mas eu costumo falar sobre esse assunto mais abertamente com os meus amigos, pois sempre tive mais liberdade de diálogo sobre isso com eles. Minha família é muito religiosa, por isso eu procuro evitar falar sobre o assunto com meus familiares, a não ser que seja algo muito sério.

Costuma falar sobre o tema com os pais?

Eu falava mais quando era mais nova, pois algumas dúvidas surgiam e eu tentava saná-las com eles. Hoje, como sou mais velha, não tenho muito esses assuntos com eles. Agora eu converso mais entre amigas sobre alguns detalhes, pois é difícil a gente não ter vergonha de falar com os pais sobre este assunto. Mas quando eu queria orientações básicas, geralmente eu falava com meus pais sim.

Você indica que outros adolescentes procurem a família quando têm dúvidas?

Indico sim. Embora comigo o diálogo sobre este assunto não tenha sido tão aberto, eu acredito que falar sobre sexualidade com os pais é melhor do que com terceiros. Uma relação mais aberta entre pais e filhos ajuda a promover a confiança sobre o assunto, além do mais, eles possuem os melhores conselhos para nós, perante os amigos e internet. Procurar informações fora de casa acaba levando a sérios riscos, pois, na maioria das vezes, o que a gente encontra é um pouco distorcido.

Você acha que ao se manterem omissos, os pais, sem querer, “dão aval” para que os filhos procurem informações fora de casa?

Com certeza, pois se você tem alguma dúvida e não consegue conversar com seus pais, consequentemente você vai querer procurar informações em outros lugares e com outras pessoas, que, na maioria das vezes, podem não passar os conselhos corretos. Eu, por exemplo, conversava algumas coisas com meus pais, mas, devido ao conservadorismo que, às vezes, tinha em casa, eu ficava com vergonha e ia perguntar para amigas ou procurar na internet. Isso não é bom. Se os pais querem que os filhos estejam protegidos neste aspecto, devem sempre estabelecer um dialogo aberto sobre o assunto.

Você concorda com a educação sexual nas escolas?

Sim, pois hoje em dia muitas adolescentes acabam engravidando cedo por falta de informação, além do risco de doenças sexualmente transmissíveis que muitos correm e nem sabem. Isso acontece por falta de dialogo com os pais ou por informações erradas com terceiros, por isso, a escola tem esse papel de orientar. Se a informação não existe em casa, o jovem deve ter a opção de encontrá-la na escola.  Na minha época escolar eu não tive educação sexual, e acho que isso me fez falta, assim como muitas meninas da minha idade. Com o tempo, eu mesma fui ao médico, com o intuito de tirar dúvidas com um especialista, mas se a escola oferecesse essas orientações quando eu precisava, talvez isso não tivesse sido necessário. A escola tem esse papel de preparar para a vida e a educação sexual faz parte disso, pois é algo natural do ser humano. Por isso, os jovens devem saber, para que não corram risco pela falta de informação.

DICAS DE SÉRIE

Título: Orange is the new black

                                                                      Divulgação

Ano produção: 2013

Classificação: 18 anos

Gênero: Drama

Duração média de episódios: 55 minutos

Sinopse: Baseada da história real de Piper Chapman, a série abre espaço para discussões sobre a sexualidade feminina. Com 30 anos, Piper vive uma vida perfeita até que é sentenciada a cumprir uma pena de 15 anos em um presídio feminino por crime de tráfico de drogas cometido há anos. O que ela não esperava era reencontrar a ex-namorada com quem foi cúmplice do crime, cumprindo pena no mesmo lugar. A série trata de temas como bissexualidade e LGBTfobia, e mostra a reflexão sobre orientações e descobertas sexuais.

Título: Sense8

                                                                        Divulgação

Ano produção: 2015

Classificação: 18 anos

Gênero: Drama, ficção científica e fantasia

Duração média de episódios: 55 minutos

Sinopse: Ligados por uma conexão mental, um grupo de oito pessoas ao redor do mundo precisa sobreviver perante os indivíduos que os veem como uma ameaça para a ordem mundial. Os personagens, além de conexões mentais, também transbordam muita sexualidade, discutindo temas como desejo e orientação sexual. Na série, uma transexual promove discussões em torno do seu gênero, apresentando questões que vão além da formação de estereótipos e transfobia que o cotidiano costuma apresentar.

AGENDA

HOJE

Evento: 4º Seminário da Consciência Negra, organizado pelo Coletivo Mãos Negras, com o tema Lei 10.639/03 e cotas raciais, e Educação: Corpos negros empoderados no Espaço

Local: FCT/Unesp, campus de Presidente Prudente

Endereço: Rua Roberto Simonsen, 305, Centro Educacional

Horário: 13h às 22h

Convite: R$ 15

SEXTA-FEIRA

Evento: 10º Fórum Municipal de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher

Local: OAB de Presidente Prudente

Endereço: Rua João Gonçalves Foz, 885, Jardim Marupiara

Horário: 8h30 à 12h30

Convite: Gratuito

DOMINGO

Evento: Som na Linha. Show da banda Doce Fel

Endereço: Praça Oscar Figueiredo Filho, Presidente Prudente

Horário: 20h às 23h30

Convite: Gratuito

Publicidade

Veja também