Após mais de 40 anos trabalhando como médico em diversos hospitais, em diversas cidades e Estados de norte a sul, de leste a oeste do Brasil, já vi muita situação. Difícil até de enumerá-las. Vamos lá.
Vi muitos milagres acontecerem quando não havia mais nenhuma esperança de vida. Vi muitos casos, lágrimas e ouvi muitos choros, mas também muitos sorrisos em nascimentos ou por terem sua saúde restabelecida.
Vi muita dedicação e empenho de profissionais em dias normais na semana bem como em difíceis e de caos.
Em feriados e festas de finais de ano, a dedicação de profissionais sempre superou a expectativa e até além do limite físico e emocional.
Como estamos em período de festas, vi aqui tristeza, muita tristeza por parte dos idosos... Explico:
Você, caro leitor, pode não acreditar, mas muitos, digo muitos mesmo, familiares, neste período de Natal e ano novo, com objetivo de viajarem e passarem este momento de alegria e felicidade, dirigem-se aos hospitais, com o seu idoso, seja, pai, mãe, tio, avô, avó, sogra, sogro ou até filhos que moram juntos ou os tem sob seu cuidado, para uma consulta médica, ou para exame laboratorial, dizendo que estão com febre, tosse, dor, falta de ar, infecção, açúcar do sangue subiu, pois não tem mais a fitinha para análise, e que precisam de reavaliação.
A maioria dos idosos não precisa de nenhuma intervenção ou medicação e não apresenta nenhum sintoma ou problema clínico, mas já estão no hospital, e lá foram deixados. Quando o funcionário procura o familiar, já não é encontrado.
Procura pela recepção, nada!
Procura nos corredores, nada!
Procura no banheiro, nada!
Procura no laboratório, nada!
Procura na lanchonete, nada!
Procura no estacionamento, nada!
Procura por telefone, número errado!
Tentam ver pelo endereço do paciente, não existe e nem CEP!
Nada! Sumiu! Sumiram!
Passa-se um ou dois dias, e não os encontram. Coloca-se o nome do idoso na estação de rádio, ninguém aparece.
Nada! Sumiram! Abandonaram! Esqueceram!
Alguns familiares surgem apos sete dez dias, quando as festividades terminaram e aparecem preocupados, e mentindo dizendo o que aconteceu, porque não ligaram. Ainda podem dizer que celular tinha acabado a bateria ou que estavam num lugar que não tinha rede internet ou estavam em locais de difícil acesso.
Outros familiares não surgem após as festas, e nem após um, dois, três meses ou mais, esqueceram de buscá-los. Aí corremos contra o tempo e precisamos de instrumentos para localizar familiares.
Os idosos agora estão há bom tempo e sem necessidade dentro de um hospital, com risco de infecção, tristes e deprimidos. Acionamos a Delegacia do Idoso e até Ministério Público.
Você que está lendo até aqui este relato está com “coração partido “e sofrendo junto”. Esperando que alguém seja localizado. Acreditem: isto acontece, vai acontecer e já está acontecendo nestes dias.
Hospitais estão superlotados com casos de acidentes e intoxicação alimentar ou bebida e ainda precisam cuidar do idoso abandonado pelo familiar.
Triste! Muito triste! Aquele que foi cuidado desde pequenino, agora não cuida daquele que precisa, pior ainda, os abandona, pois esquecem seus entes queridos idosos para passearem e aproveitarem a vida no Natal e ano novo.
Aquele que não ama a quem vê, como pode amar a Deus, a quem não vê?