Talking Cure (cura pela fala)

O indizível fere, machuca, psicossomatiza, aprisiona e nos faz refém de nós mesmos. É preciso dizer, expressar ou cobrar a conta. Toda vivência que suscita os penosos afetos de pavor, angústia, vergonha, dor psíquica, pode atuar como trauma psíquico; se isso de fato acontece depende, compreensivelmente, da sensibilidade da pessoa afetada. Cada sintoma histérico desaparecia de imediato e sem retorno, quando conseguíamos despertar com toda clareza a lembrança do acontecimento motivador, assim avivando igualmente o afeto que o acompanha, e quando, em seguida, o doente descrevia o episódio da maneira mais detalhada possível, pondo o afeto em palavras (Freud,1893). 
Recordar sem afeto é quase sempre ineficaz; o processo psíquico que ocorreu originalmente deve ser repetido da maneira mais originalmente possível, levado ao status nascendi e então “expresso”. O ser humano encontra na linguagem um substituto para a ação, com o auxílio do qual o afeto pode ser “ab-reagido quase do mesmo modo. É preciso expressar de alguma forma, metaforicamente, podemos pensar em chimney sweeping (limpeza de chaminé). Limpar a chaminé é preciso! 
Freud renunciou rapidamente à hipnose propriamente dita, substituindo-a pelas associações livres do paciente.  Muitas vezes, carregamos uma culpa em que nós mesmos construímos ou conjecturamos e muitas vezes, ela pode ser microscopicamente, pensada sob diferentes vértices, na presença de um outro, como um psicanalista, por exemplo. A culpa pode ser desmistificada, amenizada, simbolizada e compreendida. Carregamos por muito tempo pensamentos, vivências ou experiências e até mesmo traumas, que ao não serem ditos ou pensados, acarretam um peso tão grande, comprometendo a trajetória de toda uma vida. 
O presente e o futuro permanecem enlutados e o passado vivo, internamente, porém amargurado ou melancólico. O indizível precisa de alguma maneira ser olhado. Precisamos chorar, gritar, falar, desabafar, de alguma forma “limpar as chaminés”. Enfim, “A cura não vem do esquecer, vem do lembrar sem sentir dor. É um processo (Freud)”.
 

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