TCC aborda casos de violência contra a mulher em websérie

Em “Elas que lutam”, alunas da Facopp/Unoeste, Ariane, Bruna, Isabela, Helen, Beatriz e Milena, mostrarão relatos de abusos físico, psicológico, patrimonial, moral e sexual

VARIEDADES - OSLAINE SILVA

Data 27/08/2020
Horário 09:00
Roberto Mancuzo - Estudantes ficam frente a frente com mulheres que vivem a triste realidade da violência
Roberto Mancuzo - Estudantes ficam frente a frente com mulheres que vivem a triste realidade da violência

Um TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) de alunas da Facopp/Unoeste (Faculdade de Comunicação de Presidente Prudente / Universidade do Oeste Paulista) terá como peça prática uma websérie documental, dividida em cinco episódios com cerca de oito minutos cada, com relatos de casos de violência contra a mulher no município e região, como: física, psicológica, patrimonial, moral e sexual. Intitulado “Elas que lutam”, o projeto está sendo realizado pelas estudantes Ariane Balbino, 21 anos; Bruna Bonfim, 21; Isabela Souza, 20; Helen Gallis, 22; Beatriz Monteiro, 21; e Milena Bispo, 22, sob a orientação do professor Roberto Mancuzo, 45.
Depois de concluído, o produto final ficará disponível nas redes sociais criadas para o trabalho. Poderá ser usado como um produto educativo e informativo. 
Helen explica que o grupo sempre pensou em abordar no TCC um tema que realmente somasse para a sociedade, e usar a linguagem audiovisual para isso. Elas vinham conversando sobre duas temáticas: falta de saneamento básico em cidades do interior paulista (mas por conta do ano eleitoral entenderam que teriam muitas dificuldades) e a violência contra mulher, que vinha sendo discutida em diversos meios. “Este estava ligado diretamente a nós, e quando começamos a pesquisar sobre o assunto, entendemos a necessidade gigantesca de uma abordagem mais humanizada sobre. As notícias eram até vinculadas em meios jornalísticos, mas nunca com profundidade. E era isso que queríamos fazer, ir além”, pontua.
Isabela discorre sobre a importância que é abordar esta temática dentro de um projeto acadêmico. Segundo ela, a violência contra mulher vem tendo holofotes há alguns anos, mas não se vê nenhuma mudança no cenário. Conforme a jovem, nem mesmo na Facopp encontraram nenhum trabalho que falasse especificamente dessa questão. E por estarem em uma graduação de comunicação, sentiram a necessidade de informar tanto aqueles que estão dentro da faculdade e principalmente quem está fora. Isso porque a desinformação sobre o tema ainda é grande. 
“É importante que tenhamos consciência de que em algum momento podemos estar sofrendo violência e poder compreender isso durante a graduação é melhor ainda. Estaremos preparadas para o mundo lá fora e também para lutar e ajudar cada vez mais mulheres”, expõe Isabela. 

De frente com as vítimas

Muita pesquisa de campo foi primordial no processo de levantamento das histórias para amarrar o tema e deixá-lo redondinho. Helen comenta que, infelizmente,como citaram no trabalho, quase toda mulher já sofreu algum tipo de violência. “Então o processo de levantamento e escolha de fontes foram em cima de muita conversa e respeito com cada possível personagem da websérie. A sensibilidade foi nossa aliada nessa parte do projeto”, afirma Helen.
Por se tratar de um tema delicado, que mexe com o sentimental, o emocional dessas mulheres, Isabela acentua que estão se esforçando ao máximo para deixar as vítimas o mais confortáveis possível. “E também de não identificar aquelas que ainda se sentem ameaçadas. Já encontramos até casos em que a vítima ainda está com o agressor e isso nos deixou bem abaladas. A todo o momento buscamos informações a respeito do tema, na DDM [Delegacia de Defesa da Mulher], nos serviços de assistências à mulher, entre outros locais”, completa Isabela.

“QUANDO COMEÇAMOS A PESQUISAR SOBRE O ASSUNTO, ENTENDEMOS A NECESSIDADE GIGANTESCA DE UMA ABORDAGEM MAIS HUMANIZADA SOBRE. AS NOTÍCIAS ERAM ATÉ VINCULADAS EM MEIOS JORNALÍSTICOS, MAS NUNCA COM PROFUNDIDADE. E ERA ISSO QUE QUERÍAMOS FAZER, IR ALÉM”
Helen Gallis

De acordo com Bruna, um dos obstáculos do grupo foi a fase de pesquisa do projeto para a parte teórica. Por escolher a websérie como um modelo de audiovisual, foi difícil encontrar teorias para se embasarem, por se tratar de um molde muito contemporâneo. “Além disso, outra dificuldade é encontrar vítimas que queiram falar abertamente sobre o que sofreram, mas com muita perseverança estamos conseguindo avançar com histórias incríveis! As vítimas são verdadeiras guerreiras por enfrentar tudo isso e ainda se dispor a nos contar”, enfatiza.

Uma prévia no Instagram

As meninas estão atualmente na fase de produção, gravando as entrevistas com as vítimas e as especialistas Brenda Raven Cavalcante Araújo Mercúrio (psicóloga), Janaina Mazuchell Pereira e Simone Duram Toledo Martinez (psicóloga e coordenadora, respectivamente, do Creas - Centro de Referência Especializado de Assistência Social) e Paula Fluminhan (advogada), que serão entrevistadas nos episódios. “As histórias contadas pelos personagens e por nós registradas nos guiarão para poder expressar a realidade de uma mulher que foi vítima de violência”, menciona Ariane.
A websérie será disponibilizada no YouTube, provavelmente em dezembro, após apresentação e aprovação do trabalho das garotas. Até lá, já está ativo um Instagram para hospedar conteúdo sobre a websérie, bastidores, informações sobre o tema e outras histórias de violência contra a mulher, o @elasquelutam, que já recebeu depoimentos de mulheres que passaram por situações de abuso e conseguiram superar. “Nosso objetivo é dar voz a elas, e que ali seja um espaço para que possam desabafar, expor suas histórias e servir de exemplo para milhares de mulheres que passam por situações parecidas”, pontua Bruna.

Saiba Mais

Curiosidade


Muitos que lerem o título provavelmente já lembrarão de ter ouvido algo parecido. A ideia do nome da websérie "Elas que lutam" surgiu de uma expressão bastante utilizada na internet que sofre alterações (Você que lute”, “Ela que lute”, “Ele que lute”, dentre outras), de acordo com a pessoa referida. As estudantes alteraram a expressão gramaticalmente para que o significado destacasse a luta diária das mulheres para manterem seus direitos ou simplesmente para manterem-se vivas.
Ariane comenta que muitas mulheres sofrem violência diariamente. Independente de qual ou como seja, acontece. E diz que acreditam que todas as mulheres já passaram por uma situação semelhante, ou pelo menos conhecem alguém que já passou. Para ela, é incrível estar em contato direto com essa luta. Estar ali com as vítimas, ouvir os seus relatos, conhecer suas histórias e, o principal, lutar junto com elas por essa causa não tem preço! 
“O momento das gravações é muito intenso, cada palavra dita, cada lágrima que escorre no rosto delas é como se estivéssemos vivendo junto cada fato. Infelizmente, é sim muito triste e comovente, mas desde que dissemos sim para esta luta, que é linda, carregamos a certeza de que podemos transformar a vida de outras mulheres com esse trabalho e é isso que nos incentiva cada dia mais”, destaca Ariane.


Alunas são orientadas pelo professor Roberto Mancuzo; até dezembro, websérie estará no YouTube

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