Uma tese de doutorado produzida na FCT Unesp de Presidente Prudente recebeu nesta sexta-feira (13) o Prêmio Aziz Nacib Ab´Sáber de Geografia Física, considerado um dos mais importantes do país e outorgado pela Anpege (Associação Nacional de Pós-Graduação em Geografia).
A tese “Fracking na nossa terra, não!”: Conflitos ambientais em torno dos recursos energéticos não convencionais no Oeste Paulista e Centro-Oeste Paranaense” foi escrita e defendida pelo aluno Alessandro Donaire de Santana, sob orientação do professor Dr. João Osvaldo Rodrigues Nunes.
A entrega do prêmio foi feita durante o XV Enanpege (Encontro Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia), que terminou hoje (13), na UFT (Universidade do Tocantins), em Palmas (TO). O tema do evento foi “Geografias da Esperança: Revisitar o Brasil, dialogar com o Mundo”.
“O Prêmio é importante para o PPGG(Programa de Pós-Graduação em Geografia |) e para a FCT Unesp, mas sobretudo apresenta a todos uma pesquisa robusta e fundamental a respeito dos conflitos que surgem no âmbito dos recursos energéticos não convencionais da região”, diz o coordenador da PPGG, professor Arthur Whitacker.
O autor da tese entende que o prêmio é o reconhecimento de uma pesquisa que aborda uma questão que ainda é desconhecida da maior parte da sociedade, já que a exploração dos recursos energéticos não convencionais ainda não foi efetivada no Brasil. “É um trabalho eminentemente geográfico, que buscou incessantemente discutir a relação sociedade e natureza, procurando desvelar as contradições e interesses antagônicos que se materializam em territórios de múltiplas territorialidades”.
Fraturas hidráulicas
Um dos objetos de estudo das tese premiada é o fraturamento hidráulico, ou “fracking”, que nada mais é do que uma técnica de perfurações utilizada, majoritariamente, na extração de recursos energéticos não convencionais. A questão é que ela se dá pela injeção de grande quantidade de água e produtos químicos no subsolo para alcançar reservatórios antes impossíveis de serem atingidos.
O trabalho fundamenta-se no fato de que os conflitos ambientais desencadeados com a 12ª Rodada de Licitações para exploração de recursos energéticos não convencionais resultaram da percepção de que o fraturamento hidráulico [fracking] provocaria impactos ambientais negativos, evidenciando disputas territoriais entre diferentes grupos sociais e econômicos. Assim, segundo explica Alessandro Donaire, tendo como recortes espaciais o Oeste Paulista e o Centro-Oeste Paranaense, “o objetivo geral da tese se concentrou em analisar como se dá, sob o capitalismo fossilista, a correlação de forças entre diversos agentes, grupos sociais e setores econômicos concorrenciais em relação à apropriação e degradação dos recursos naturais, em um contexto marcado por interesses divergentes nos territórios”.
Para que a pesquisa se desenvolvesse, Alessandro realizou trabalhos de campo nas províncias de Neuquén e Rio Negro, na Bacia Sedimentar de Neuquén, Formação Vaca Muerta, Argentina, maior produtora de recursos energéticos não convencionais da América Latina. “Com isso, foi possível apreender os impactos e conflitos ambientais provocados pelo fraturamento hidráulico nos territórios”, explica. Ele ainda realizou entrevistas com representantes das prefeituras de Presidente Prudente e Cascavel (PR) e os dados apresentaram a repulsa ao fracking e atestaram ainda as principais motivações para a aprovação de legislações antifracking em seus territórios.
“O que defendo é que o cenário pesquisado em Vaca Muerta é suficientemente forte para colocar em xeque qualquer argumento que defenda o fracking como uma atividade de desenvolvimento territorial. Até porque, especialmente no contexto latino-americano, ficou explícito no trabalho que os ganhos ficam concentrados nas mãos de poucos e o ônus é partilhado pela maioria da população nos territórios”, diz.
Segundo Alessandro, os grandes temas de interesse acerca da realidade do Oeste Paulista já são pesquisados com muita profundidade nos vários grupos de pesquisa que compõem o PPGG. Já o tema dos recursos energéticos não convencionais ainda é uma novidade, já que não há exploração comercial na região.
“É difícil apontar caminhos de pesquisa acerca de um fenômeno que ainda não está materializado na paisagem regional. Porém, acredito que os grupos de pesquisa da PPGG, em suas diferentes áreas e perspectivas analíticas, podem desenvolver pesquisas relacionando este tema com a questão fundiária, recursos hídricos, clima, bem como os impactos às dinâmicas urbanas e rurais, já que, como ficou demonstrado na minha tese, todas essas dimensões são impactadas com a atividade de exploração energética não convencional”, explica.
Menção Honrosa
No mesmo evento da Enanpege 2023, o programa de Pós-Graduação em Geografia da FCT Unesp recebeu menção honrosa no prêmio Maurício de Almeida Abreu” de Geografia Humana, com a dissertação “As espacialidades instituídas pelas jovens mulheres negras na e por meio da cultura Hip-Hop em Londrina (PR)”, da aluna Ana Carolina dos Santos Marques. Ela foi orientada pelo professor Prof. Dr. Nécio Turra Neto.
Na dissertação, Ana Carolina interpreta as experiências interseccionais de cidade de jovens mulheres negras que participam da cultura Hip Hop em Londrina (PR), por meio de relief maps.
Os relief maps permitem estudar desigualdades sociais com uma perspectiva interseccional após coleta de dados como uma metodologia analítica.
Ana Carolina aponta na dissertação que o hip hop “é entendido como uma cultura juvenil negra que possibilita que as jovens se afirmem, entretanto, é constituído predominantemente por homens e no seu interior ainda são disseminados estigmas de gênero”. Desse modo, tornou-se relevante interpretar os enfrentamentos que as jovens realizam nos espaços da cultura, assim como no espaço urbano por meio dela e a principal conclusão é que as jovens estão constantemente negociando suas identidades e permanências no espaço urbano de Londrina.
Cedida
Alessandro Donaire recebe prêmio de melhor tese em Geografia Física
