Vivemos uma era em que muitos produtos parecem feitos para durar menos do que poderiam. É o que se chama de obsolescência programada: uma estratégia amplamente utilizada pela indústria para estimular o consumo contínuo, criando um ciclo em que o consumidor é levado a substituir o que ainda funciona.
O exemplo clássico é o do relógio cuja pulseira se rompe e, ao buscar reposição, o cliente descobre que o modelo foi descontinuado e não há pulseiras compatíveis. A solução esperada? Comprar outro relógio.
No campo digital, a obsolescência programada assume forma ainda mais sutil — e o caso do Windows 10 é um exemplo eloquente. A Microsoft anunciou oficialmente que encerrará o suporte ao sistema em 14 de outubro de 2025. A partir dessa data, não haverá mais atualizações de segurança nem correções de falhas, o que deixará o sistema vulnerável. Estima-se que mais de 500 milhões de computadores em todo o mundo ainda utilizem o Windows 10 e, portanto, serão impactados pela decisão.
Muitos desses equipamentos não atendem aos requisitos mínimos exigidos pelo Windows 11, o que significa que o usuário, para continuar seguro e compatível com novas versões de softwares, terá de substituir o computador inteiro ou em partes.
A transição será gradual: empresas poderão contratar extensões pagas de atualização, e alguns usuários recorrerão a sistemas alternativos, como o Linux. Mas o movimento é claro — o mercado estimula a renovação forçada. Isso não ocorre apenas com sistemas operacionais. Esse comportamento empresarial, embora rentável, levanta questionamentos éticos e econômicos: até que ponto o consumidor é livre para escolher quando trocar um produto, se o próprio fabricante cria as condições para torná-lo inutilizável? Em alguns países da Europa, discute-se o chamado “direito ao reparo”, que obriga as empresas a fornecerem peças e manuais por um período mínimo, incentivando o conserto em vez do descarte.
A obsolescência programada é, de certa forma, uma armadilha legalizada: empurra o consumidor a gastar mais sob o pretexto da modernização. Mas nem sempre o novo é sinônimo de melhor. Entender o ciclo de vida dos produtos, valorizar a reparação e resistir à lógica do descarte rápido são atitudes que reduzem o impacto ambiental e fortalecem o poder de escolha do consumidor. Afinal, o progresso tecnológico só faz sentido quando está a serviço da sociedade — e não o contrário.