“Mamãe falei”

“Mamãe falei demais. Agiinstintivamente. Como um primitivo, não domestiquei, meus pensamentos selvagens. Acéfalo e canibal, devoro tudo que vejo pela frente. Por muito pouco, almoço meu pai. Mamãe falhei. Falhei com o ser humano, falhei com a nação. Só como ração. Sou desnutrido de bom senso, ética, moral, civismo e verdade. 
Sou fora da realidade, um fora da lei. Mamãe falhei, com meus eleitores, que de leitores nada possuem. Não sei o que é lamentar, tampouco reparar. Dignidade não tem idade. Não sei qual é a minha. Sou corpo ou zumbi e vivo só do prazer. Mamãe falhei, quando vejo um corpo feminino, mesmo em guerra, almejo e ereto fico, como um felino com garra. Erotizo as mulheres ucranianas pseudo-viúvas, ameaçadas e indefesas. São sexys, gostosas e pobres. Pobreza significa cadela sem dono. Só tenho olhos para as curvas. 
Mamãe falhei, esqueci que você é mulher e que as mães são mulheres. Será que ainda vivo o pleno Complexo de Édipo? Não decifrei o enigma da Esfinge. Não realizei a travessia. Banalizei as mulheres. Elas são objetos do meu desejo, efêmero. Afinal, o que é mesmo o verdadeiro gozo? Eu, não sei? O que é isso? Acho que o gozo é diferente de ejaculação. Será que o gozo é só para os homens maduros e verdadeiros? E eu, que só me lambuzo. Estou confuso e difuso, não sei bem quem eu sou. Qualquer buraco, confundo. 
Não aprendi o que é a emoção. Sou da era industrial, dos tempos modernos. Charles Chaplin sabe. “Sou operativo e operário, um mero executor de gestos mecânicos repetitivos”. Será que o deputado “Mamãe falei” chegará a refletir sobre suas falhas? O reconhecimento de falhas é um estágio mais evoluído, assim como poder reparar os erros, impulsividades ou decisões precoces. Penso ser improvável. Precisamos “aprender” votar. Precisamos ficar atentos e reflexivos ao que vamos introduzir nas urnas. Nós elegemos e decidimos, democraticamente, futuros políticos (diferente de política), que vão nos representar.  Estão em nossas mãos-dedos, todo o futuro e destino da nação. 
O jovem deputado Artur do Val, o  “Mamãe falei”, é um exemplo de acefalia, que toma conta da mente humana, na hora da escolha de quem irá nos representar, e em outros múltiplos, vértices. Tenho fé e esperança na existência de verdadeiros políticos, ainda embriões, que poderão assumir seus postos, expulsando assim, esses perversos de microfone na mão e sem fronteiras. Que se apresentem novas configurações de indivíduos, com novos desdobramentos em direção da ética, cidadania, respeito e moral. Pagamos um preço muito alto às nossas abstinências, neutralidades e indiferenças. Votos nulos e brancos também elegem e elegem barbáries.
 

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