“Região do Pontal conta com índices criminais muito mais amenos”

Ramon Euclides Guarnieri Pedrão, delegado de Polícia Civil

REGIÃO - ROBERTO KAWASAKI

Data 26/08/2020
Horário 08:32
Weverson Nascimento - Ramon:
Weverson Nascimento - Ramon:

A região do Pontal do Paranapanema já foi palco de diversos conflitos agrários no passado, o que demandou uma atenção especial das forças de segurança. No decorrer dos anos, houve uma evolução positiva nos índices de criminalidade, não apenas na região de Presidente Prudente, mas também nas áreas com maiores atritos – progresso que ocorreu de maneira gradual. Na edição de hoje, o delegado de Polícia Civil, Ramon Euclides Guarnieri Pedrão, traz um panorama da evolução da criminalidade no Pontal, em específico, na região de Rosana e Primavera.

O Imparcial: Como analisa a questão da segurança pública nas cidades do Pontal? 
Ramon: Nossa região sentiu bastante os reflexos da disputa agrária e, até hoje, é possível verificar “cicatrizes” daquele tempo, que só não são maiores graças ao empenho das forças de segurança pública e demais órgãos que não economizam esforços no sentido de reforçar, a todo tempo, o clima de paz e cooperação entre os envolvidos. Superada aquela fase, a região do Pontal conta com índices criminais muito mais amenos.

Como foi feito esse trabalho?
A cessação das disputas agrárias não trouxe de imediato a pacificação social. Foi necessário um trabalho incisivo por parte da polícia, de maneira a garantir a boa convivência entre proprietários e assentados, até que estes passassem a fazer parte da comunidade local, contribuindo com o desenvolvimento da sociedade. Para isso, contamos com o apoio de órgãos atuantes em palcos diversos da segurança pública, como é o caso da Fundação Itesp [Instituto de Terras do Estado de São Paulo].

Que importância teve o papel da Polícia Civil na mudança deste cenário? 
Em conjunto com a Polícia Militar, buscou garantir a tranquilidade durante o período de transição, o que foi alcançado com sucesso à medida que os índices de criminalidade foram caindo progressivamente. Cada caso era tratado como único, conferindo a um crime de menor potencial ofensivo especial importância, fazendo com que aquela comunidade se sentisse, de fato, inserida em nosso contexto social. O furto a uma pequena venda ou a subtração de uma novilha de raça, por exemplo, tinham a mesma atenção, visto que a solução de um caso leva à elucidação de outro. 

Atualmente, qual é o foco de trabalho da Polícia Civil?
O crime é dinâmico e evolui junto com a sociedade, acompanhando as hodiernas crises. Muda-se a causa, consequentemente, muda-se a forma de atuação das polícias, mas o combate sempre está presente. Hoje, o nosso principal foco é o combate ao tráfico de drogas, principal móvel dos demais delitos e que também aflige a zona rural de nossa região.

E por falar em tráfico, o delito lidera as ocorrências na cidade? 
A razão da preocupação não é em virtude de altas taxas, mas do mal direto e indireto que traz à sociedade. Digo direto, me referindo aos prejuízos à saúde e à vida social. O tráfico de drogas é indiretamente responsável por grande parte dos outros delitos, pois o usuário está muito mais propenso ao cometimento de crimes contra a integridade física e a vida do que qualquer outro cidadão. No auge da necessidade de consumo do entorpecente, irá praticar delitos de ordem patrimonial - rendimento para o sustento de seu vício.

Recentemente, foram realizadas diversas operações onde cerca de 100 pessoas que participavam do comércio de drogas em Rosana foram presas. Como avalia o trabalho?
Após a 1ª fase da Operação Judas Iscariotes, registramos uma queda de 60% nos índices de furtos, o que é um número considerável. O combate ao tráfico de drogas vem sendo desenvolvido em duas frentes: o “tráfico doméstico”, praticado por moradores do município ou região que revendem porções de drogas a usuários locais; e o tráfico interestadual, praticado mediante o transporte de grandes quantidades de entorpecentes, via terrestre e aquática, fazendo de Rosana mero corredor de passagem. A cada grande apreensão, a polícia tem buscado o desmantelamento por inteiro da associação criminosa. Temos como exemplos as operações Gupta, Pit Stop, Puçá e Cérbero, onde cerca de 30 pessoas foram presas e mais de R$ 2 milhões foram apreendidos.

Devido a Rosana/Primavera estarem localizadas em região fronteiriça, existe alguma peculiaridade no trabalho da Polícia Civil? 
Com certeza, é certo que a chamada “tríplice fronteira” traz algumas peculiaridades que acabam por dificultar nossa atuação. Contudo, temos buscado o constante intercâmbio de informações com as polícias judiciárias do Mato Grosso do Sul e Paraná. Essa aproximação torna muito mais eficaz o combate ao crime, possibilitando atuações em conjunto, de maneira sincronizada e alinhada. Ainda, a administração superior da Polícia Civil na região não economiza esforços quando se faz necessário o deslocamento de policiais para outras localidades do país.

Qual a tendência futura da criminalidade na região em que atua?
A região de Presidente Prudente goza dos melhores indicadores criminais do Estado e isso, dentre outros fatores, é decorrência da boa atuação dos policiais. Assim, a tendência futura é a manutenção desses bons índices, desde que as polícias recebam efetivo e estrutura de maneira contínua. Hoje, a Polícia Civil se preocupa com o baixo número de policiais em seu quadro, problema este que vem se agravando.

PERFIL:

Nome: Ramon Euclides Guarnieri Pedrão
Idade: 32 anos
Formação Graduado em Direito, pós-graduado em Criminologia, Política Criminal e Segurança Pública, pós-graduando em Processo Penal e Direito Penal
Atividade profissional: Delegado de polícia titular do 1º Distrito Policial de Rosana – Primavera; e delegado de polícia assistente da 1ª DIG (Delegacia de Investigações Gerais), da Deic-8 (Divisão Especializada de Investigações Criminais)

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