"Um pecado em cada alma"

DignaIdade

COLUNA - DignaIdade

Data 25/07/2023
Horário 07:08

Dentre os gêneros cinematográficos da era clássica do cinema, dois deles parecem ser típicos da época e muito menos apreciados pelas plateias atuais: os musicais e os faroestes. “Um Pecado em Cada Alma” (“The Violent Men”) é um faroeste de 1955 dirigido por Rudolph Maté, contando com três grandes astros no seu elenco: Glenn Ford, Barbara Stanwyck e Edward G. Robinson. Uma espécie de tragédia shakespereana no ambiente do Velho Oeste filmado pelos estúdios Columbia Pictures. Na trama, Lew Wilkinson (Robinson) é dono de um grande rancho, e com a ajuda da esposa Martha (Stanwyck) e do irmão Cole (Brian Keith), pretende adquirir todo o vale. O único entrave é o jovem fazendeiro, Joe Parrish (Ford) que veio para o local para se recuperar de ferimentos de guerra e tem formação militar, batendo de frente com os desmandos do velho rancheiro. Além disso, a esposa Martha não é nada confiável: em uma cena clássica, com a sede da fazenda em chamas, ela deixa o marido para trás, atirando suas muletas no fogo. 
    
“Muralhas invisíveis”

A eterna luta contra nossos medos interiores e a aflição diante da aceitação atingem jovens, adultos e idosos. Encontrei perdida uma redação minha feita aos 15 anos, ainda no antigo primeiro colegial do extinto Colégio Joaquim Murtinho, que permanece atual, mostrando que a passagem do tempo nem sempre traz pleno conforto e maturidade: “Abro a porta. Paro. Caminho alguns passos, receoso de ser engolido pela boca do mundo. Tomo coragem, me encanto com as estranhas criaturas que se ostentam a minha frente. A cidade reluzente me anima a prosseguir. A cada passo, a coragem vai me invadindo, fazendo com que aos poucos eu me fortaleça juntamente com meu ideal. A caminhada não para, começo a sentir o mundo aos meus pés, cada vez mais e mais. De súbito, força e coragem se combinam em meu interior. Posso senti-las em meu peito. Uma vontade de gritar e dizer ao mundo: venci. Olho para os lados, me inibido e nada. Reinicio a caminhada, tímido, à procura de alguém que me ouça, que me entenda e que fique feliz ao presenciar minha vitória. Mas não há ninguém. Talvez todos estejam escondidos com o mesmo medo que eu sinto agora ou talvez estejam mais à frente. Não consigo suportar. Um misto de força e coragem pulsa em meu peito, me dando a impressão de quererem ter vida própria. E a ânsia de gritar é mais forte do que a barreira que me impedia. E grito, grito feliz: venci! Espero alguns instantes. Nada. As imponentes montanhas de concreto continuam paradas. Será que elas não percebem que eu venci meus medos? Ora, não me interessam o que façam ou deixem de fazer. Retorno e aos poucos, a sensação de derrota me invade. Majestosas, as tais montanhas me lançam interrogações como se não entendessem minha relação com elas. Isso me aniquila, me sinto inferior. Os montes de pedra se ostentam e me arrasam. Sinto-me diminuído, a dor é inevitável. Caio. Quem sabe, um dia...”.
40 anos se passaram e ainda continuo à espera deste dia. 

Dica da Semana

Livros

“Idadismo – um mal universal pouco percebido”: 
Autor: Egídio Lima Dórea. Editora Unisinos. Idadismo ou etarismo ou ageísmo são termos técnicos para se demonstrar o preconceito contra a idade, particularmente contra idosos. O livro relata manifestações, algumas imperceptíveis para os praticantes até francas violências contra os idosos.


 

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