13 transexuais recorrem a SP para tratamento

Conforme informações prestadas em evento ontem, público enfrenta dificuldade de acesso ao processo de mudança de sexo em PP

PRUDENTE - André Esteves

Data 06/07/2016
Horário 10:14
 

Em virtude da dificuldade de acesso ao processo transexualizador ou mudança de sexo nas instituições de saúde de Presidente Prudente, 12 pacientes transexuais do município e uma de Presidente Venceslau recorrem ao CRT (Centro de Referência e Treinamento) de DST/Aids, em São Paulo, para receber tratamento médico adequado. O número regional foi divulgado pela endocrinologista paulistana, Naila Santos, durante participação na roda de conversa com a temática "O que temos e o que queremos na saúde pública", realizada na manhã de ontem, no prédio da DRS-11 (Diretoria Regional de Saúde de Presidente Prudente), em alusão à 1ª Semana da Diversidade.

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De acordo com a coordenadora da subsede da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Ana Lúcia de Mattos Flores, o objetivo do encontro é discutir a respeito da descentralização do atendimento a transexuais e travestis restrito à capital. "É preciso que cidades do interior – ou, pelo menos, os polos regionais – sejam capazes de atender esse público, sem que haja a necessidade de deslocamento para São Paulo", afirma. Segundo Ana Lúcia, o processo transexualizador é longo e complexo e muitos interessados não possuem condições financeiras ou apoio familiar para realizar o tratamento em municípios distantes.

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Membro do Grupo Somos LGBT, Walleria Suri, 39 anos, é uma mulher transexual atendida desde 2011 no Hospital das Clínicas, em São Paulo. Ela conta que o objetivo do encontro é dar visibilidade aos direitos também partilhados por transexuais e travestis em termos de saúde pública. "A atividade compõe a Semana da Diversidade e antecede a Parada LGBT, com o propósito de mostrar que este não é apenas um momento de festa, mas político", expõe. "Existe uma portaria do Ministério da Saúde, a qual garante que nenhum ser humano pode ser excluído, no entanto, isso não acontece na prática. Queremos, portanto, mostrar a necessidade de implantar o processo transexualizador em Prudente e de impedir que médicos se neguem a atender transexuais e travestis", acrescenta.

Conforme a endocrinologista Naila, a expectativa é que cidades do interior avancem no atendimento ao público, visto que a CRT de São Paulo está fechada para a entrada de novos pacientes. "É possível perceber que Presidente Prudente tem uma demanda enorme de transexuais e travestis, contudo, não podemos receber mais, pois precisamos priorizar antes o retorno de pacientes antigos. A implantação do processo transexualizador facilitaria a questão de deslocamento e atendimento", enfatiza. Segundo ela, uma grande vitória do público é a conquista do nome social. "A mudança oficial de nome é um marco e acredito ser um processo mais transformador do que a cirurgia, questão de foro íntimo", ressalta.

A especialista explica que a principal razão para o atendimento ao público transexual ser tão estagnado é o preconceito. "Muitos médicos alegam que a maior dificuldade é o medo de não saber atender", aponta. Ela destaca que "o grupo ainda é muito despercebido pelos médicos", que passam pela faculdade sem receber qualquer instrução sobre ele. "Nos meus 6 anos como acadêmica em Medicina, eu nunca ouvi a palavra trans", frisa.

A transexual Lorys Verônica Ciccone, 43 anos, participou do encontro e compartilhou com o grupo a sua história. Para ela, Presidente Prudente possui uma demanda que "o município não quer enxergar e que sofre com a omissão do Estado". "Muitos não possuem dinheiro para ir a São Paulo e receber o tratamento fora de domicílio e recorrem aos métodos clandestinos, ficando suscetíveis a aplicação de silicone de forma irregular e desenvolvimento de doenças como câncer e depressão ou o desejo de suicídio", realça.

 

Atendimento


Para o coordenador do programa DST/Aids de Prudente, Jefferson Antonio Saviolo, é de responsabilidade da rede municipal de saúde receber e encaminhar o público transexual para as devidas especialidades. "Estamos aqui para ouvir o grupo e tentar solucionar os problemas encontrados", salienta. A Secretaria de Estado da Saúde esclarece que em São Paulo há dois hospitais públicos que realizam cirurgia de redesignação sexual, ou "troca de sexo", sendo que no resto do país apenas outros quatro hospitais realizam a cirurgia via SUS (Sistema Único de Saúde).

O Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais do CRT DST/Aids na capital paulista é o  responsável por preparar a paciente para a cirurgia e encaminhá-la ao Hospital Estadual Mário Covas, já que, conforme preconiza o Conselho Federal de Medicina, quem deseja realizar esse tipo de cirurgia necessita de acompanhamento multiprofissional por pelo menos dois anos antes do procedimento. Contando com uma equipe de profissionais especializados como psicólogos, psiquiatras, endocrinologistas, urologistas e ginecologistas, o Ambulatório presta atendimento à população transgênero desde 2009. No momento, segundo a pasta, as cirurgias são realizadas em pacientes de sexo biológico masculino e identidade de gênero feminina.

 

Fotos: José Reis

 

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