2 prefeituras da região estão entre vítimas

Adamantina e Presidente Epitácio foram alvos de criminosos que agiam de dentro presídios do MT; investigação prossegue

REGIÃO - MELLINA DOMINATO

Data 21/02/2017
Horário 09:53


Pelo menos duas prefeituras da região foram vítimas da quadrilha que agia de dentro de unidades prisionais do Mato Grosso, cujos responsáveis por diversos crimes foram presos pela Polícia Civil paulista e matogrossense, durante operação intitulada Adrenalina, mas que ficou conhecida como Golpe da Autoridade. O caso, já noticiado em O Imparcial, foi exibido no domingo no "Fantástico", e apontou que o Executivo de Adamantina foi alvo dos criminosos em novembro de 2016. Na mesma época, o grupo, que exigia de servidores públicos municipais recargas de créditos para celular, se passando por funcionários de órgãos da União, também investiram contra a Secretaria Municipal de Educação de Presidente Epitácio. O mesmo caso atingiu pelo menos 22 prefeituras do Estado. No começo do mês, 35 integrantes da quadrilha foram identificados, sendo que nove eram presidiários de Mato Grosso. Entre pessoas físicas e jurídicas, foram mais de 800 vítimas.

Jornal O Imparcial CPJ concluiu o inquérito da operação no começo do mês

A reportagem do "Fantástico" revela que a Prefeitura de Adamantina foi procurada em duas pastas diferentes. Em um mesmo dia, suspeitos ligaram para as secretarias de Saúde e de Educação. Imitando a linguagem e se dizendo procurador do MPF (Ministério Público Federal), um homem pede um carro com motorista para fiscalizações em unidade municipais. Ainda, por telefone, pede que o funcionário faça recargas de crédito em um número de celular. Alegando que iria precisar acessar a internet durante a inspeção pela cidade e que na sequência repassaria o valor devido à pasta, conseguiu convencer o motorista a efetuar 14 procedimentos. Por conta da demora no retorno, a secretaria procurou o Fórum e foi informada que o caso se tratava de um golpe.

"Na época, a Prefeitura de Adamantina registrou boletim de ocorrência e, assim, seguiu-se o inquérito policial, que foi concluído recentemente. A orientação para as cidades é que certifiquem da presença física de indivíduos que se dizem investidos em cargos de alto escalão ou de fiscalização, solicitando sempre a credencial do órgão que se diz pertencer", alerta o município.

Segundo o "Fantástico", quem entrou em contato com Adamantina foi Welber Jackson da Silva, que na época estava em um presídio de Mato Grosso. Dias antes da operação, ele recebeu um benefício e passou a cumprir pena em casa, com tornozeleira eletrônica. No entanto, ele quebrou o aparelho e é considerado foragido. "A maioria dos casos foi esclarecida. Muitos evitados, como da Prefeitura de Guarulhos, e também casos esclarecidos, como do ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho. O objetivo agora, ultrapassada a demonstração de autoria e materialidade, é partir para a proteção eficiente das vítimas com informações. Cerca de 20 contas bancárias foram bloqueadas", comenta o delegado Éverson Aparecido Contelli, da CPJ (Central de Polícia Judiciária) de Presidente Venceslau.

O delegado esclarece que os créditos de celulares solicitados pelos criminosos eram distribuídos em uma série de chips, os quais eram vendidos no centro de Cuiabá (MT) por valor abaixo do mercado ou eram direcionados para celulares dos próprios detentos que agiam de dentro dos presídios.

 

Presidente Epitácio


Em Epitácio, a Secretaria de Educação foi procurada por um dos integrantes da quadrilha, que se identificou, também por telefone, como auditor da CGU (Controladoria Geral da União), o qual iria vistoriar duas creches municipais. Após também pedir um carro com motorista, solicitou que uma funcionária da pasta efetuasse recargas em um celular, sendo que R$ 100 em créditos foram liberados pela vítima. No entanto, após insistente conversa, o suspeito pediu à funcionária que depositasse R$ 980 em uma conta-corrente, quando a trabalhadora, que prefere não ser identificada, desconfiou da ação e procurou a Polícia Civil. "Perdi pouco dinheiro, mas isso fica de alerta. Todo servidor público é voluntarioso e quer atender bem, inclusive os órgãos responsáveis por fiscalizações. É preciso prestar atenção, pois esses bandidos estão bem informados", destaca.

 

Investigação


A investigação começou em setembro de 2016, em Presidente Venceslau, depois que uma moradora recebeu uma ligação de um preso se passando por médico. Na época, o golpista dizia que precisava de R$ 5 mil para fazer exames no marido, que estava na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), como também é conhecido o golpe. Neste cenário foi que os criminosos até tentaram contato com a família de Anthony Garotinho.

Como noticiado neste diário, os crimes consistem em quatro principais condutas: falso diretor clínico de hospital, que age contra familiares de pessoas internadas em UTI; falso membro do MPF, que pratica supostas fiscalizações em prefeituras; falso sequestro; e falso parente em apuros. No dia 8, a CPJ concluiu o inquérito da operação, que além da representação pela conversão de 14 prisões temporárias em preventivas, resultou em prisões preventivas de outras duas pessoas, identificadas durante a análise dos documentos. O material produzido será encaminhado para as delegacias de São Paulo e demais Estados, assim como do Distrito Federal, para instrução das investigações em andamento, relacionado às demais vítimas identificadas na ação.

 
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