Em tempos tão sombrios, somado à velocidade de informações, somos invadidos diariamente pelas mais fortes barbáries e tragédias por aí afora. São as guerras, a violência contra as crianças, adolescentes e idosos, assassinatos brutais de uma família inteira, enfim, elencar a violência e seus desdobramentos torna-se impossível.
Algumas pessoas permanecem indiferentes, seguem a vida como se nada estivesse acontecendo. Outras são tomadas pelas emoções e vivem a dor por certo tempo. De uma maneira geral, todos estamos impactados e cada um manifesta ou expressa de várias formas. É normal e ideal que sintamos alguma consternação, tristeza, dor, lástima e sensação de luto. Penso que o luto é um grande recurso interno. O luto é uma resposta à perda e envolve um certo afastamento da atitude normal em relação à vida. E será superado após certo lapso de tempo. É muito útil que a pessoa viva o seu momento sem qualquer interferência externa.
No luto, o mundo se torna pobre e vazio, é um momento de introspecção. Freud em seu texto sobre “Narcisismo” (1914) refere-se sobre a Libido do Ego e Libido do Objeto, dizendo que quando estamos com dor de dente (molar), deixamos de pensar no mundo e tornamos o próprio dente, Libido do Ego. E quando estamos apaixonados, só pensamos no nosso amor, deixando até de pensar em si mesmo, Libido do Objeto.
“Uma pessoa que ama priva-se de seu narcisismo. Torna-se humilde” (Freud, 1914). No luto, o mundo perde o sentido, e permanecemos um certo tempo (subjetivo) voltado ao próprio ego. Permanecemos ensimesmados e nostálgicos. Enfim, “A mente se enobrece quando aprende a sofrer” (Hamlet). E o intuito da psicanálise é aumentar a capacidade do paciente para sofrer (Bion).
Toda essa reflexão aqui é para expressar minha dor e consternação sobre o caso do jovem adolescente de 14 anos, do Rio de janeiro, que articulou minuciosamente, junto com uma namorada virtual desde os seus 8 anos, o assassinato de toda a sua família e os jogou na cisterna. “Digerir” tais acontecimentos como esse leva um tempo. Enlutei. Eu fiquei por um tempo, ensimesmada, dei um tempo para a corrida veloz em que o dia a dia me convoca. Eu poderia permanecer indiferente, seguir em frente, comer um chocolate, comprar um sapato, tomar um uísque, mas parei, parei tudo para escrever e descrever a minha dor.
A dor mental é um processo, vivê-la é um grande aprendizado, e o tempo de espera é salutar. É o processo de simbolização. Elaborar a dor é um dos caminhos, é onde ganhamos força interna e psíquica para tolerar as frustrações e os sofrimentos inerentes à vida.