A tecnologia realmente é fantástica? Que tal não pegarmos mais o celular e nos pegar muito? O que seria mais fantástico?

Persio Isaac

CRÔNICA - Persio Isaac

Data 26/04/2020
Horário 06:08

Gordinho vai comprar pão, pediu a Mulher Maravilha. Eu quero dormir mais um pouco e aproveite leve a Flavia. Depois a Maria Célia Macuco fala que eu sou mimado. De gordo para gordinho até que não é ruim, apesar de que não sou gordo e nem gordinho. Mas ela me chama assim, vou fazer o que? Se realmente eu fosse gordo mesmo, ela provavelmente iria dizer: Vai comprar pão "magrinho". Um contraponto para levantar a autoestima de nós, homens. Não tente entender as mulheres. É mais fácil ler o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, onde ele cita: "Viver é sofrer e sobreviver é encontrar um significado no sofrimento".

Sinistro esse tal de Nietzsche. A primeira coisa que fazemos nesses tempos modernos ao levantar é pegar o celular e ver se tem alguma parada no Face, no Instagram e no WhatsApp. O terrorista americano, Theodore Kaczynski, conhecido como Unabomber, já dizia lá pelos anos 60, que a humanidade seria escrava da tecnologia. Quem não conhece a história desse homem assistam à série na Netflix, chamada “Unabomber”.

Um professor de matemática de Harvard, dono de um QI alto, se rebela contra o sistema, abandona sua prodigiosa carreira de professor e passa a mandar cartas bombas para os executivos de empresas que simbolizam esse futuro da humanidade. Optou em viver uma vida primitiva sozinho na floresta até ser descoberto pelo FBI. Será que vamos no futuro ser o Neo, personagem do filme “Matrix”?. Adoraria ser um cibercriminoso fazendo uma rebelião contra as máquinas e libertar a humanidade dessa escravidão cibernética.

Seria sadio a humanidade voltar a sentir o vento. O mundo moderno perdeu o juízo, está mais louco do que qualquer sátira que dele se faça (copiei essa frase no Google pensador). Achei apropriada para o momento que estamos vivendo. Oh meu, que merda é essa? Acorda. A Mulher Maravilha pede para você  comprar pão e levar sua filha ao trabalho e você já  mergulha nesse mundo de fantasias. Acorda Dom Quixote. Minha autocrítica é severa. Estão vendo que nem sonhar podemos mais. ‘Tá’ bom, não precisa me encher o saco. O que que tem demais sonhar com uma revolução de costumes?

Gordoooo vai comprar pão que a Flavia tem horário. Já não sou mais o gordinho. Saio rapidamente das minhas fantasias, faço a lendária rotina das manhãs, sem energizá-las. Entro no carro, dou a partida e o carro não pega. Pqp, basta cair a temperatura que carro a álcool não pega. Gordoooooo. Calma que o carro não está pegando. Vou tentar no tranco. Ainda bem que a rua onde fica minha casa é descida. Depois de quase 20 trancos, o bendito do motor à álcool pega. Tossiu barbaridade, mas pegou.

Se alguém mais radical gritar: Vai pra casa véio, infelizmente terei que responder: véio é a mãe. Vou até o Posto Zap, peço para colocar R$ 20 de álcool. Só isso. Ué, você quer o que? Essa pandemia está quebrando o mundo. Cumprimento o Plinio, dono do posto, e entro na loja de conveniência. Gozado a maioria dos postos tem padaria. É lógico seu sonhador, estamos em 2020. Tempos modernos né seu Mané. Ih lá vem você de novo me aporrinhar. Peço quatro pães bem torradinhos. Adoro os pães do Posto Zap. As meninas são muito atenciosas, educadas e já me conhecem: quatro pães bem torradinhos né seu Persio?

Essa é a minha santa aldeia. Só que levei um susto. O que foi? Até ontem os quatro pães custavam R$ 2,97 e agora veio R$ 3.31. Pelo amor de Deus, vai ser pé de rato assim na Indochina. São apenas alguns centavos. Pé de rato é você que não percebeu que o quilo do pão aumentou 11.5%. A gente não percebe justamente porque são alguns centavos, mas o reajuste financeiro foi de 11.5%. Isso dá uma taxa de inflação anual absurda.

Nós brasileiros não somos educados para ter um conhecimento financeiro. Os bancos deitam e rolam nessa seara de desconhecimento. A gente só vê o quanto as prestações cabem no nosso bolso. Pagamos um absurdo de juros, um crime legalizado, mas a prestação dá pra pagar. É assim que somos. Ah já sei, vão culpar o bendito do coronavírus. O ex-ministro Mandetta disse que nem chegamos no pico da contaminação ainda (não tinha sido demitido). Imagine quando chegarmos no pico. O pão vai custar cada um R$ 10. E vão colocar na conta do coronavírus. Santa ganância. E assim vamos vivendo nessa pandemia, nessa quarentena e percebendo que viver é encontrar um significado para o sofrimento. O Nietzsche ‘tá’ certo. Vejam vocês.

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