CLT ou não CLT?  Eis a questão – parte I

OPINIÃO - Fernando Batistuzo

Data 16/09/2025
Horário 04:30

Pedindo licença a Shakespeare, percebo que algumas – ou já muitas – pessoas se encontram diante do tão conhecido dilema hamletiano, agora numa moderna versão situada no campo da vida do trabalho: ser CÉ-LE-TÊ ou autônomo/”empreendedor”?
Em verdade este dilema talvez já exista há um bom tempo (ou desde sempre), mas recentemente é que tem se intensificado, sobretudo entre os jovens brasileiros prestes a iniciarem sua vida de trabalho, de produtividade, que se veem numa bifurcação decisória quanto ao caminho a tomar: ser empregado, trabalhar para os outros e ter renda limitada, ou, ser livre, trabalhar por conta própria e “o céu é o limite” para renda?
Sempre houve aqueles que desde tenra idade manifestaram um ímpeto empreendedor, assimilado, absorvido de algum parente, especialmente os pais também empreendedores, ou até mesmo nato quando inexistente qualquer familiar com esta característica.
De outro lado sempre existiram aqueles que, desprovidos daquele ímpeto e sem qualquer modelo próximo de empreendedor, e via de regra em consequência por falta de opção, optaram ou, principalmente, naturalmente, seguindo um fluxo, adentraram ao mundo do emprego, da carteira de trabalho assinada.
Estes dois “tipos” de pessoas sempre conviveram e sempre – juntamente com outros tipos – compuseram a “população economicamente ativa” brasileira e contribuíram para o desenvolvimento nacional, social, individual e de suas respectivas famílias.
E esta convivência sempre foi, digamos, respeitosa, com um reconhecendo a relevância do outro, ou um ignorando, não se importando (indiferente) com a condição do outro e principalmente aos motivos que o levaram a seguir por um ou outro caminho.
Mas de uns tempos pra cá, como se já não fossem poucas as formas de “polarização” social, parece estar surgindo – ou já consolidada – uma outra, pela qual se opõem empreendedores e empregados/céletês/e até servidores públicos.   
Não causaria qualquer problema o surgimento desta oposição não fossem os sentimentos e opiniões destilados por membros de ambos os lados, uns contra o outros, como se uma forma de trabalho fosse melhor que a outra e, principalmente, como se o indíviduo que exerça uma das duas fosse melhor que o outro.
Longe de generalizar, alguns dos jovens empreendedores afirmam que o “céletê” (em tom pejorativo) não tem ambição e por isso seria um fracassado (no país-modelo para estes, um “looser”) e sem vontade de trabalhar, querendo apenas cumprir sua jornada e “tchau”. Alguns jovens empregados, mantendo a arcaica retórica oriunda do século passado, afirmam, acusando, o empreendedor de explorador da mão de obra e sem apego a outras coisas da vida (lazer, amizades, contemplação...) que não o trabalho e o dinheiro.
É o tipo do debate onde todos brigam e ninguém tem razão porque absolutamente ninguém é melhor ou pode se achar melhor que o outro por optar por uma forma de vida e trabalho diferente da do outro. 
Desde quando a escravidão deixou de ser um modelo de produção dominante, o ser humano passou a ter liberdade de trabalhar (inclusive se quiser) e como trabalhar, tratando-se de uma questão puramente de escolha que passa, sobretudo, por se conhecer como pessoa, por descobrir o que se deseja para a própria vida e qual seja a própria ambição, sabendo do privilégio que é poder mudar de ideia quando quiser.
 

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