Um levantamento feito pelo CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo), através de dados fornecidos por farmacêuticos hospitalares de todo o Estado, chama atenção para o desabastecimento de medicamentos (confira a tabela), e traz um alerta à população sobre o risco da falta de fármacos fundamentais, entre eles, os utilizados em UTIs (Unidades de Terapia Intensiva), e para a intubação de pacientes com Covid-19. Na região, a Santa Casa de Misericórdia de Presidente Prudente informou que suspendeu as cirurgias eletivas nesta semana por conta do atual estoque de medicamentos. Já o HR (Hospital Regional) Doutor Domingos Leonardo Cerávolo, por meio da Secretaria de Estado da Saúde, alega que possui todas as medicações necessárias para atendimento aos pacientes, mas que consultas e procedimentos eletivos (não urgentes) têm sido agendados ou reprogramados.
O levantamento, feito no período de 6 de fevereiro a 3 de março, aponta o desabastecimento dos principais medicamentos utilizados para a sedação de pacientes em UTI, como fentanila, propofol e midazolam, e os neurobloqueadores musculares como atracúrio, rocurônio e cisatracúrio, usados em procedimentos que demandam anestesia, como cirurgias eletivas. Os principais motivos apontados pelo desabastecimento destes e de outros medicamentos nos estabelecimentos públicos são: escassez de mercado, alta demanda não esperada, preço alto impraticável, e falha do fornecedor.
O conselho traz outro alerta ao dizer que, apesar de o oxigênio medicinal ter sido apontado em apenas quatro estabelecimentos, considera-se importante mencioná-lo por tratar-se de um insumo crítico para a manutenção da vida.
O levantamento foi realizado através de 234 farmacêuticos ligados a hospitais públicos, filantrópicos e privados do Estado de São Paulo. A lista completa de medicamentos pode ser conferida no site oficial do CRF-SP: www.crfsp.org.br.
O impacto da “ausência” de fármacos foi relatado por uma leitora ao jornal O Imparcial, ao mencionar que hospitais em Prudente estão “cancelando” procedimentos cirúrgicos que não sejam de extrema urgência, uma vez que os medicamentos para sedação estão acabando.
Na tarde desta quarta-feira, a reportagem solicitou um posicionamento para as duas principais unidades de saúde do município. Em nota, a Santa Casa de Misericórdia de Presidente Prudente informou que suspendeu as cirurgias eletivas nesta semana por conta do atual estoque de medicamentos, e que manteve apenas os procedimentos de emergência e urgência. “Ainda há estoque de medicamentos para sedação para alguns dias, mas a instituição não está conseguindo a reposição juntos aos fornecedores”, expôs.
A Secretaria de Estado da Saúde, que responde pelo HR, informou que a unidade prudentina de saúde possui todas as medicações necessárias para atender pacientes de alta complexidade internados em UTI. No entanto, acrescentou que, em virtude da necessidade de salvar vidas e priorizar atendimento aos casos de urgência e emergência em meio à pandemia do novo coronavírus, consultas e procedimentos eletivos (não urgentes) têm sido agendados ou reprogramados com base em avaliação caso a caso, dependendo da orientação médica e do quadro do paciente. “Os pacientes que tiverem dúvidas podem entrar em contato com a unidade para orientações”, pontuou.
SAIBA MAIS
No início deste mês, a diretoria do CRF-SP (Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo) reuniu-se por videoconferência com a Coordenadoria de Assistência Farmacêutica do Estado de São Paulo, órgão ligado à Secretaria de Estado da Saúde, para manifestar a preocupação da entidade com a possibilidade de desabastecimento de medicamentos administrados em pacientes internados em hospitais paulistas para o tratamento da Covid-19.
Na oportunidade, o presidente do CRF-SP, Marcos Machado, afirmou que esse cenário preocupa a entidade e reiterou que o Conselho está à disposição do órgão do governo para auxiliar no que for necessário para evitar que a situação se agrave. “Nós, como entidade de classe, nos preocupamos com essa situação. Então, nos antecipamos para saber como podemos ajudar e colaborar de forma efetiva”, disse na ocasião.
A coordenadora de Assistência Farmacêutica do Estado de São Paulo, Alexandra Mariano Fidêncio, também apresentou dados sobre o abastecimento no Estado e afirmou que a ajuda no conselho é bem-vinda, principalmente no sentido de levar essa discussão para o âmbito nacional. A reunião também contou com a participação de representantes de outros órgãos ligados à Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, como o Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo, Centro de Controle de Doenças, e a Diretoria Técnica da Saúde.
Abastecimento de medicamentos nos hospitais do Estado
Classificação da unidade de saúde |
Levantamento |
Estabelecimentos privados |
Entre os 103 estabelecimentos privados, 77 responderam que faltam medicamentos |
Estabelecimentos públicos (parcerias privadas, terceirização) |
Entre os 43 estabelecimentos públicos, 32 responderam que faltam medicamentos |
Estabelecimentos filantrópicos |
Entre os 41 estabelecimentos filantrópicos, 32 responderam que faltam medicamento |
Estabelecimentos públicos (administração direta) |
Entre os 38 estabelecimentos públicos, 34 responderam que faltam medicamentos |
Estabelecimentos beneficentes |
Entre os 4 estabelecimentos beneficentes, 4 responderam que faltam medicamentos |
Estabelecimentos mistos |
Entre os 4 estabelecimentos mistos, 2 responderam que faltam medicamentos |
Fonte: CRF-SP