Foram quase 51 anos, dedicados não apenas às narrações esportivas, mas principalmente ao incentivo e ao fomento de modalidades, até então, pouco valorizadas no país. Tanto fez, que ficou conhecido como Luciano do vôlei, do basquete, do boxe ou de tantos outros esportes que, antes dele, nunca tiveram espaço algum na concorrida programação da televisão brasileira. Quando se calou, subitamente, na tarde do último sábado, aos 66 anos, às vésperas do início de mais um Campeonato Brasileiro de Futebol, Luciano do Valle não deixou simplesmente uma referência, mas um legado que ficará marcado na história do jornalismo esportivo.
Radialista, jornalista e colunista da "Charanga Domingueira", publicada aos domingos em
O Imparcial, Flávio Araújo conta que não chegou a trabalhar diretamente com Luciano do Valle em alguma emissora. Contudo, o prudentino relata que "foram constantes as ocasiões em que nos encontramos em viagens, notadamente na cobertura de corridas de Fórmula 1". Em sua concepção, o locutor, que atualmente empunhava os microfones da Band, "foi um dos grandes narradores da televisão brasileira".
Nascido em Campinas, em 4 de julho de 1947, o saudoso narrador possuía laços diretos com Presidente Prudente. Isso porque, sua filha Alessandra do Valle, é casada com o jornalista prudentino José Siquieri Filho, que atualmente trabalha na TV Record, de Bauru. Prestes a completar sua 11ª participação em uma Copa do Mundo, Luciano do Valle faleceu em Uberlândia, onde narraria a partida entre Atlético/MG e Corinthians, pela primeira rodada do Brasileirão.
Para Flávio Araújo, mesmo que relativamente precoce e a 54 dias da abertura da Copa no Brasil, Luciano do Valle teve uma passagem a altura de seu profissionalismo: a caminho de mais uma jornada futebolística. "Luciano deixa um acerto estupendo de feitos notáveis que o manterão vivo perante os admiradores do grande trabalho que realizou. O fato de partir em plena liça é também o sonho de qualquer ser humano que se dedica à glória da vida dividindo-a com o trabalho que abraçou", considera o radialista e jornalista.
Pura emoção
Com 30 anos de jornalismo, Gesner Dias, coordenador de Esportes da Rádio Comercial, de Prudente, explica que esteve poucas vezes com Luciano do Valle pessoalmente. Entretanto, independente disso, o radialista reforça que ele será sempre uma referência do jornalismo esportivo.
"Quem acompanhou a trajetória do jornalismo na televisão, sabe que o Luciano do Valle é uma referência, tanto como pessoa, como profissional, principalmente em um país que está prestes a sediar a Copa do Mundo. Ele não foi apenas um locutor de futebol, foi bom no vôlei, na Fórmula 1, no basquete, enfim, em todas as vertentes do esportes", pontua.
Em sua opinião, a importância do locutor fica evidente através da enorme repercussão que ela causou, principalmente nos veículos concorrentes da Band. "Quando você vê o Galvão Bueno, falando em entrevista para a Bandeirantes, que tinha que se superar em todas as transmissões para segurar a audiência, pode-se concluir sua importância. Ele conseguia transmitir a emoção do esporte, dada a capacidade e o talento que ele tinha naquilo que fazia", relata.
Além de uma carreira sólida e admirada por muitos, inclusive por seus concorrentes, Luciano do Valle sempre acreditou, ao longo de quase 51 anos de trajetória profissional, na importância do esporte não apenas como competição, mas também como forma de inclusão social e formação do cidadão. Bandeiras que ficarão marcadas como as principais características de sua vida profissional. "Luciano abriu um caminho extraordinário valorizando as transmissões de outros esportes, que não apenas o futebol, e dessa maneira valorizou não apenas a cobertura desses eventos, mas esses esportes em si", finaliza Flávio Araújo.
