E as esposas? Quem salva?

OPINIÃO - Carolina Costa Mancuzo

Data 23/06/2020
Horário 06:00

Na última terça-feira (16/06), um dia após eu ter renovado os votos do meu casamento de 13 anos, eis que me deparo, aqui, neste mesmo jornal, com um artigo com aquele que “se diz” meu marido, senhor Roberto Mancuzo (se diz, pois depois deste artigo comecei a repensar se deveria mesmo ter renovado os votos), cujo título era “Salvem os maridos na quarentena”. Imaginem vocês que ele apresentou uma série de cenas do “difícil” cotidiano dele dentro de casa nesses dias de pandemia.

Pensei bastante sobre o que ele escreveu e resolvi que estava na hora de mostrar a vida das esposas neste cenário. Mas antes disso, acho que podemos pensar mesmo em como estão os “pobres maridos”... Imaginem vocês que com a pandemia eles não precisam mais sair cedo de casa para o trabalho, pois o trabalho passa a ser na própria casa. Como ele é um professor universitário, desde o primeiro dia está em aulas home-office. Como não temos um escritório em casa – ele tinha um espaço de trabalho na faculdade e eu não ia acabar com a decoração da casa com livros e papéis espalhados, certo? – pois, bem, ele resolveu adotar o quarto do nosso filho menor (de 7 anos) como escritório. As aulas acontecem todas as noites, mas ele passa o dia todo “enfurnado” naquele “escritório”, diga-se de passagem, de portas fechadas. O pobre do Pedro, nosso filho, não tem coragem de abrir a porta nem para pegar cueca depois do banho, que passou a ter que tomar no banheiro da irmã, pois perdeu também o banheiro do próprio quarto.

Eu sou coordenadora de curso na mesma faculdade em que o meu marido dá aulas. Porém, meu trabalho se manteve presencial. Então, todos os dias de manhã, após de deixar os afazeres da casa e as crianças organizadas, eu saio para trabalhar. E pasmem, não tem um dia, um dia sequer, que não recebo ligações da minha filha mais velha, Maria, de 10 anos, pedindo para eu resolver problemas do cotidiano da casa como: “Mãe, não estou conseguindo conectar o computador para minha aula on-line” ou “mãe, pode pedir para o Pedro parar de me irritar” ou até “mãe, posso comer um pedaço de bolo agora?”. A minha resposta é sempre a mesma: “Maria, seu pai está em casa, pergunta pra ele!!!”. Mas imediatamente recebo: “Ai mãe, mas eu não posso atrapalhá-lo... ele está trabalhando!”. E eu, meu Deus???? Tô fazendo o quê???? Jogando videogame?????

Realmente não deve ser fácil esta vida de marido em casa. Porque agora, com tempo “ocioso”, fica até chato não resolver o problema das portas dos armários da cozinha que estão quebradas há anos e eu peço para consertar. Agora não relembro mais a cada seis meses, afinal, ele está lá todos os dias! Ele que resolva!

Mas enfim chegaram as férias para professores – isso professores, eu como coordenadora não entrei no bolo, continuei indo todos os dias – e finalmente, o “bonito” ia poder descansar... Pensa que a porta do armário da cozinha foi consertada? Que nada... inventou de fazer uma horta no sítio, que dá a ele, pelo menos, umas seis horas por dia longe “da loucura” que é ficar o dia em casa. E eu? Ah... continuo recebendo ligações a cada cinco minutos dos filhos para resolver o problema da cachorra que acabou de fugir de casa, trabalhando fora, fazendo doutorado e ainda tendo que chegar em casa, fazer comida à noite, ver se está tudo certo para o dia seguinte, para que o pobre do meu marido possa descansar neste período de férias! É... quem vai salvar as esposas?

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