O número de concessões de benefícios previdenciários associados à saúde mental, entre acidentários e comuns, em Presidente Prudente, mais que dobrou, ao passar de 321, em 2023, para 704, em 2024, ou seja, um aumento de 119%. Tais dados são do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, que ainda revela que, na série histórica, ou seja, entre 2012 e 2024, cerca de 4,3 mil auxílios-doença, por problemas relacionados ao tema, foram liberados na capital do oeste paulista, os quais resultaram em mais de 695 mil dias perdidos de vida saudável e de atividade produtiva.
Além de apontar a evolução histórica do número de concessões, o levantamento expõe as causas dos afastamentos associadas à saúde mental conforme a CID (Classificação Internacional de Doenças), a distribuição por setor econômico e por ocupação.
Levando em conta os benefícios acidentários ou não, liberados no período 2012/2024, as principais causas de afastamentos associadas à saúde mental, em Prudente, são: episódios depressivos, reações ao estresse grave e transtornos de adaptação, transtorno depressivo recorrente, transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de múltiplas drogas e ao uso de outras substâncias psicoativas, além de outros transtornos ansiosos.
Ao considerar a distribuição de ausências por setor econômico, nos casos acidentários, temos na primeira colocação as “Atividades de Atendimento Hospitalar”, seguidas de “Bancos múltiplos, com carteira comercial”. Na sequência aparece o “Transporte rodoviário coletivos de passageiros, com itinerário fixo, intermunicipal, interestadual e internacional”. Nos casos não acidentários, o ranking é composto, novamente em primeiro lugar, pelas “Atividades de Atendimento Hospitalar”. Na segunda posição temos “Comércio Varejista de mercadorias em geral, com predominância de produtos alimentícios – hipermercados e supermercados” e, em terceiro, “Restaurantes e outros estabelecimentos de serviço de alimentação e bebidas”.
Quanto à distribuição de afastamentos associados à saúde mental por ocupação, nos casos acidentários, a liderança fica para “Auxiliar de Enfermagem”, seguida por “Técnico em Enfermagem” com “Motorista de ônibus rodoviário” e “Motorista de caminhão [rotas regionais e internacionais]” empatados na terceira colocação. Para os casos não acidentários, o ranking é diferente, composto por “Vendedor de comércio varejista”, “Auxiliar de enfermagem” e “Alimentador de linha de produção”.
Em 2023, época da realização da pesquisa pelo observatório, Prudente estava entre os 44,8% dos 645 municípios do Estado que contavam com políticas ou programas de atendimento a pessoas com transtorno mental em seu âmbito. Em um mapa disponibilizado pelo estudo, a cidade é comparada com distintos municípios da mesma unidade federativa quanto à presença dessa ação do poder público. O azul indica a presença e o cinza a ausência (veja a imagem). As informações foram
baseadas em dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
De acordo com o levantamento, a saúde mental no ambiente de trabalho tornou-se uma preocupação global crescente. Em 2019, cerca de um bilhão de pessoas viviam com algum transtorno mental, representando 15% da população em idade ativa.
Além disso, anualmente, a depressão e a ansiedade resultam na perda de 12 bilhões de dias de trabalho, gerando um impacto econômico global de quase U$ 1 trilhão, segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde).
“Apesar da gravidade do problema, o tema ainda enfrenta barreiras culturais e institucionais, dificultando a implementação de estratégias eficazes de prevenção e suporte aos trabalhadores afetados. Enfrentar os riscos psicossociais no ambiente profissional exige ações concretas e um compromisso efetivo por parte das empresas”, aponta o observatório.
“Além de promover um ambiente acolhedor, é essencial capacitar gestores para identificar e mitigar fatores de risco, como estresse, assédio e sobrecarga mental, prevenindo ambientes de trabalho insalubres do ponto de vista psicofisiológico”, complementa.
SAIBA MAIS
Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho
O Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho foi desenvolvido pela iniciativa SmartLab de Trabalho Decente, em colaboração com pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo) no âmbito do projeto “Acidente de Trabalho: da Análise Sócio Técnica à Construção Social de Mudanças”. O objetivo fundamental da ferramenta é o de melhor informar e subsidiar políticas públicas de prevenção de acidentes e doenças no trabalho, de modo que todas as ações, programas e iniciativas passem a ser orientadas por evidências não apenas em nível nacional, mas principalmente em cada um dos 5.570 municípios brasileiros.
Reprodução/ Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho
No gráfico, apresenta-se a evolução histórica do número de concessões em Prudente
Reprodução/ Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho
Prudente está entre cidades com atendimento a pessoas com transtorno mental (azul indica presença e cinza ausência de serviço)