Na manhã de ontem o céu carregado e as nuvens ameaçadoras pairavam sobre Álvares Machado. O temor de que, pela primeira vez em 105 anos, a cerimônia do Shokonsai terminasse sob chuva parecia ganhar força a cada hora. Mas, como em um acordo silencioso com a tradição, o vento cessou no final da tarde e o sol se abriu para brindar o momento mais aguardado: o ritual das velas.
Uma a uma, as pequenas chamas foram acesas — cada vela sobre um túmulo. O vento que soprara durante o dia simplesmente parou. Em um cenário quase místico, todas permaneceram acesas, compondo um mar de luzes entre as alamedas do Cemitério Japonês, sob os olhos emocionados de centenas de pessoas que lotaram o Parque das Cerejeiras e os novos mirantes da praça de alimentação.
Há 105 anos, o Shokonsai se repete, unindo gerações em um ato de gratidão e respeito aos imigrantes japoneses e seus descendentes. O ritual das velas é mais que uma tradição: é um símbolo da permanência da cultura e da memória, renovado a cada ano sob o mesmo céu — aquele que, mesmo fechado, sempre se abre para reverenciar os ancestrais.