Exposição retrata o inconsciente durante a pandemia da Covid-19

De hoje a quinta-feira, mostra com obras produzidas por assistidos do Cras, orientados pelo psicólogo Guilherme Monteiro, estará instalada no Salão Nobre de Iepê 

VARIEDADES - OSLAINE SILVA

Data 23/11/2021
Horário 08:00
Foto: Cedida
Guilherme diz amar o que faz, amar o interior: “Aqui nós temos como trabalhar”
Guilherme diz amar o que faz, amar o interior: “Aqui nós temos como trabalhar”

Tem início hoje e segue até quinta-feira, em Iepê, a exposição “Imagens: o inconsciente durante a pandemia da Covid-19”, aberta para visitação pública das 11h às 15h, no Salão Nobre, nos dois últimos dias. O evento reúne as obras de arte feitas por assistidos do Cras (Centro de Referência de Assistência Social) durante as oficinas de arteterapia, como peças, vasinhos em argila, isopor, material com tinta, quadros, entre outros.
“O objetivo da exposição é trazer reflexões livres e subjetivas do emocional de quem a visita”, expõe o psicólogo, Guilherme Monteiro, 29 anos, que é especialista em Arteterapia e Saúde Mental, e ficou à frente da iniciativa.
Ele diz que embora ainda estejamos vivenciando esse cenário pandêmico, as questões são sobre o voltar ao normal, falar sobre o que é incômodo mesmo antes da pandemia. “Com esse trabalho procuramos facilitar mais o dia a dia das pessoas. Vale ressaltar que não sou o psicólogo da instituição, a Secretaria Municipal de Assistência Social contratou os meus serviços [de forma terceirizada] para fazer esses grupos que envolvem a arteterapia com os atendidos pela instituição”, explica Guilherme, acrescentando que seu trabalho constitui em formar os grupos, levantar as demandas que ali aparecem e assim apresentar as técnicas responsáveis para dar continuidade aos atendimentos no centro de referência com a psicóloga e assistente social do Cras.
Guilherme coloca toda uma emoção na voz ao falar da importância de incentivar essas pessoas a usar a arte. Porque quando realizam trabalhos em grupo tem a possibilidade de ampliar os horizontes e fazer com que os participantes percebam que certas situações às vezes não acontecem só com eles. “Porque muitas vezes vivemos coisas quais pensamos que só acontecem com a gente, que o outro está bem e eu não. Principalmente agora nesse mundo de incertezas que a pandemia trouxe para os pensamentos. Então ali em grupo a gente nota uma troca muito rica, onde um usuário vê o outro relatando sobre uma possível dificuldade em relação à própria  vida”, apresenta o especialista, salientando que a arteterapia traz uma ferramenta do indivíduo expressar esses sentimentos que parecem ser conflituosos. 

Trabalhar o emocional

Guilherme diz que os grupos formados tiveram a finalidade de trabalhar os aspectos emocionais das famílias e indivíduos atendidos pela socioassistencial do município no atual cenário, onde emerge a necessidade de reestruturação subjetiva, frente a um presente e futuro com aspectos emocionais e sociais que vieram com a pandemia da Covid-19.
Segundo ele, foi atendida uma média de 100 indivíduos com idade entre 15 e 85 anos. Ao todo, foram formados 52 grupos terapêuticos, dez intervenções temáticas e mais de 300 obras de arte que se destacam e dão vida à exposição.
O psicólogo expõe que a mostra está sendo utilizada para encerrar este ciclo. Os trabalhos foram desenvolvidos desde julho último. Conforme ele, será meio que uma surpresa para os atendidos verem as obras deles ali expostas. “Tem um quadro de quando trabalhamos o Setembro Amarelo, que é simplesmente riquíssimo. Perguntamos a eles o que é a loucura. Porque a loucura também é muito subjetiva, o que pode ser loucura pra um pode não ser para o outro. Será que já pensamos na cor da loucura? Se a loucura tivesse uma forma como seria?”, destaca.

Interesse na saúde mental

Abriu esses horários extras porque foram despertados vários interesses de outros setores por essa forma de expressão através da arteterapia, que é uma forma diferenciada que foge daquela coisa convencional, do consultório onde a terapia é aquele processo que busca a cura somente pela fala. “Na arteterapia a gente encontra outros mecanismos. É uma forte ferramenta de expressão do inconsciente, ou seja, que pode se expressar de uma forma não verbal através das cores, das formas, da música, da dança, do teatro, entre muitas outras”, ressalta o arteterapeuta.
“O que a gente percebe é que a população tem interesse em estar trabalhando as questões que viabilizam a saúde mental. Mas elas fogem daquele contato apenas paciente e terapeuta. Então vimos que o grupo dá muito resultado. É uma troca de experiências, não é feito nada de forma individual”, explana. 

Arteterapia: uma doação

O profissional explica que a arteterapia é uma “doação profissional” que utiliza recursos artísticos com finalidade terapêutica. “Utilizamos atividade artística como instrumento de intervenção profissional para a promoção de saúde e qualidade de vida”, frisa.
De acordo com Guilherme, o trabalho do Cras em si busca o fortalecimento de vínculo dentro das famílias, a readequação do indivíduo em sociedade. Ou seja, vem com a proposta de trabalhar a facilitação do agir social de forma individual e também coletiva. 
“E a arteterapia une tudo isso. É uma facilitação da forma de expressão, pois é expressando que conseguimos ser seres atuantes na sociedade, nos posicionar a respeito dos conceitos qual acreditamos. E no Cras ela vem com esse objetivo de trabalhar para que a população perceba a importância que tem a saúde mental e as outras várias formas de expressão”, destaca o especialista.

É de casa

Guilherme, que se formou em Psicologia em 2019 na Unoeste (Universidade do Oeste Paulista) em Presidente Prudente, é um apaixonado por seu trabalho. Ele teve uma experiência no Rio de Janeiro (RJ) que o fez retornar à cidade e ver o quanto ele é apaixonado pelo interior. 
“Às vezes as pessoas não reconhecem que aqui o acesso à saúde, as informações básicas, nós temos. Esse diferencial da arteterapia faz presente um válido instrumento, e muito rico, onde a pessoa percebe que aqui nós temos como trabalhar. Pode trazer uma melhoria para a saúde física, mental e também social dentro deste novo contexto que estamos vivenciando”, acentua.

NÚMEROS

300
Obras dão vida à exposição que começa hoje em Iepê

100
Foi a média de atendidos com idade entre 15 e 85 anos

52
Grupos terapêuticos foram formados nesse trabalho

10
Intervenções temáticas resultaram do projeto do Cras

Fotos: Cedidas

Durante as oficinas de arteterapia, surgiram ricas peças, como vasinhos em argila


No Setembro Amarelo os grupos trabalharam em cima da pergunta: “O que é loucura”?



 

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